Entende-se por metalinguagem o tipo de narrativa cujo propósito é descrever ou falar da própria linguagem. O novo longa metragem de Jean-Paul Civeyrac (Fantômes e Toutes ces belles promesses), Paris 8, contempla isto de maneira nítida. Sendo exibido pela primeira vez durante o Festival de Berlim, o filme conta a história de Etienne (Andranic Manet), um jovem que deixa sua família e namorada em Lyon pela oportunidade de estudar Cinema na Universidade de Paris. O que mais parece um longa experimental, com lentes preto e branco e cortes bruscos, trata justamente de um aspirante a diretor que se nega a produzir filmes franceses convencionais.
Quando um longa-metragem se propõe a ter uma duração superior a duas horas, exige-se ou uma história capaz de prender o espectador ou um digno desenvolvimento de personagem. Paris 8 não só ultrapassa essa marca, chegando aos seus 137 minutos, como também está longe de cumprir esses requisitos. Ainda que Manet tenha realizado um ótimo trabalho interpretando Etienne, principalmente por estar iniciando sua carreira de ator, o protagonista é fraco e pouquíssimo envolvente. Apático na maioria das vezes, consegue ser uma espécie de marionete de Mathias (Corentin Fila), ao mesmo tempo em que exibe sua prepotência, conforme rebaixa qualquer outro tipo de opinião alheia à sua.
A intenção de Etienne em distanciar-se dos filmes franceses tradicionais chega a ser irônica, já que Paris 8 nada mais é do que um filme tipicamente francês: lento, reflexivo, politizado e com toques de um triângulo amoroso. Talvez a característica que mais se sobressaia no longa seja conversas que envolvem um questionamento, seja na conversa com Valentina (Jenna Thiam) ou na discussão com Annabelle (Sophie Verbeeck). E de fato seriam cenas mais do que incríveis, mas marcantes. Porém, perdem sua validade à medida que o filme se estende mais do que o necessário.
Por se tratar de um filme que constantemente discute a posição do Cinema no mundo, sua constituição e suas consequências em sociedade, inevitavelmente agrada o espectador que se interesse pelo tema. No entanto, a linguagem é tão específica, e até complexa em alguns momentos, que acaba por afastar-se daqueles que não possuem um conhecimento tão aprofundado sobre a sétima arte. Tratando deste aspecto, o filme não é nada didático.
Civeyrac parece ter inconscientemente contado um relato autobiográfico, deixando a história e os personagens em segundo plano. O filme parece tentar abraçar o mundo e acaba não abarcando nada. Ainda que tente retratar a complexidade de ser fiel aos seus juízos de valor, enquanto se procura estabelecer uma identidade, acaba tomando um rumo diferente. Diversas cenas poderiam ser facilmente excluídas, já que de nada servem no resultado geral da obra, parecendo que foram postas apenas na tentativa de acrescentar um toque cult.
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