O Brasil vive um momento delicado no âmbito da cultura. Esse setor tão importante da sociedade está sendo atacado por todos os lados, de todas as maneiras possíveis -- inclusive de modos oficiais. Por isso, Pacarrete é tão importante. Primeiramente, por mostrar que o bom cinema resiste, mesmo em momentos de ataque. E também por sua história sobre resistência.
Dirigido por Allan Deberton, que faz sua estreia como diretor de longas, Pacarrete conta a história da personagem-título, vivida por Marcélia Cartaxo (A Hora da Estrela). Solitária e incompreendida, ela tenta levar suas habilidades como bailarina para toda a cidade de Russas, no interior do Ceará. No entanto, nunca é apoiada e a sensação é de que ninguém quer saber.
A partir disso, acompanhamos a jornada dessa personagem, repleta de altos e baixos, que precisa lidar com a solidão e a rejeição enquanto luta para manter sua arte. É um filme poderoso, cheio de significados em seus atos e diálogos, e que é merecedor dos vários prêmios que faturou no Festival de Gramado em 2019 -- Melhor Filme, Atriz e Roteiro são alguns.
Cartaxo, como sempre, está brilhante. Consegue modular o humor complexo de sua personagem sem grandes problemas, indo do êxtase à depressão com uma naturalidade desconcertante. Ainda que os atores coadjuvantes estejam bem, ela é a sustentação absoluta do filme. Difícil não se encantar por sua personagem, apesar da brutalidade de sua "casca".
Deberton perde o ritmo do longa aqui e ali, prejudicando um pouco o andar da narrativa. No entanto, ainda assim, isso não é o bastante para tirar o brilho de Pacarrete. O filme chega no momento ideal, na hora em que o Brasil precisa de um filme de resistência. E cá entre nós, gosto muito de Babenco. Mas era este bom filme que merecia ter sido o escolhido para o Oscar.
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