Lá pela metade de Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 20, estava mais perdido que cachorro em dia de mudança. Mesmo tendo lido o livro de Alexandre Dumas há alguns anos, e que já adaptado quase uma dezena de vezes para as telonas, não conseguia me lembrar rapidamente sobre os enlaces de tantos personagens, histórias e situações -- e isso, infelizmente, parece ser obrigação no filme de Martin Bourboulon.
Afinal, o cineasta, conhecido por seus trabalhos em Relacionamento à Francesa e Eiffel, não se dá ao trabalho de fazer algo para um público amplo. Seu filme é a adaptação quase que fiel às páginas de Dumas, ainda que com algumas modernizações que se fazem necessárias. O roteiro de Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (ambos de Qual é o Nome do Bebê) vai direto ao ponto e, inclusive, se vale de recursos literários, como narrações, para explicar situações.
Por um lado, assim, pode-se dizer que Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é, disparado, a adaptação mais fiel que já foi feita. Ainda que traga alguns incrementos que não estão no filme, além de mudar a história de alguns personagens, o longa-metragem traz praticamente todas as histórias como realmente foram contadas por Dumas. Isso acaba sendo uma faca de dois gumes. Há o lado bom, que finalmente coloca toda a essência da história nas telonas do cinema.
Por outro lado, há toda uma questão de linguagem: o que funciona nos livros não vai, necessariamente, funcionar nas telas. E é isso que acontece aqui: o roteiro busca ser tão literal em alguns situações que elas se tornam, invariavelmente, confusas ou simplórias demais na linguagem do cinema. É o caso da história que junta os quatro mosqueteiros (François Civil, Vincent Cassel, Romain Duris e Pio Marmaï), que não poderia soar mais boba e artificial.
Mesmo problema recai na personagem Milady, vivida por Eva Green: ainda que ela seja a protagonista do próximo filme, que já deve estrear no Brasil no final do ano, ela está aqui na história gratuitamente, acrescentando muito pouco e com ações parcamente justificadas.
No entanto, vale ressaltar que Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan não é de todo ruim -- longe disso, na verdade. O longa-metragem traz uma produção de respeito, com cenários, figurino e locações que mostram interesse em retratar a história fielmente. Os atores também estão bem em cena, com destaque para o jovem François Civil (Amor à Segunda Vista) e, principalmente, para Vicky Krieps (Trama Fantasma), que dá profundidade para a personalidade da Rainha.
Com isso, no final, fica a sensação de que tudo poderia ter seguido um caminho melhor: menos ao pé da letra do livro e mais inspiração, trazendo o que há de melhor na história e adaptando a linguagem para funcionar em outro meio. Há, afinal, bons atores, algumas cenas interessantes, bons cenários, figurino inspirado. Faltou "só" mesmo roteiro, que simplesmente não conseguiu ter personalidade o suficiente pra mexer no texto de Dumas e fazer uma adaptação inesquecível.
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