Nesta quarta-feira, 3 de novembro, a Netflix lançou seu novo documentário francês, Os Reis da Fraude. Nele, vemos a história de golpistas que enganaram sistemas de cotas de carbono da União Europeia e faturaram milhões de euros durante a década de 90 e anos 2000.
Nessa época, foi criada a compensação de carbono, no qual várias empresas prejudiciais ao meio ambiente precisam pagar aos governos por "direitos de poluição", para, de certa forma, compensar as emissões de CO2 na atmosfera. No entanto, golpistas da UE se aproveitaram da logística falha, e ganharam milhões de euros em cima dos impostos dessas compras.
Dirigido por Guillaume Nicloux, Os Reis da Fraude explora esse e outros golpes aplicados na época, utilizando depoimentos dos próprios golpistas, de especialistas e policiais que trabalharam nos casos. As explicações de cada golpe são bem didáticas, com um leve exagero em certos momentos, porém contam bem a dinâmica de cada um.
No entanto, não espere por algo que explora as consequências financeiras, sociais e políticas desses crimes. Aqui, não tem nada disso. Pelo contrário, a história foca nas pessoas que os executaram. Os golpistas são os protagonistas. O documentário quer mostrar quem são essas pessoas antes, durante e depois dos golpes. Como se conheceram, o quanto de dinheiro arrecadaram, o luxo que viviam na época e como vivem agora.
Apesar de ser uma abordagem interessante, Os Reis da Fraude não faz nada além de atirar no próprio pé. A impressão que se tem no início é de ser algo completamente fora de tom, devido à tamanha seriedade do assunto. E isso se mantém até o final. Deram uma pegada sensacionalista a algo que, definitivamente, impactou milhões de pessoas ao redor do mundo. O documentário deixa de apresentar as tristes consequências, a fim de celebrar a "vitória" dos golpistas.
Não se trata de uma história de ficção, e sim algo real. Desta forma, faltou mais sensibilidade com o assunto. Muitas vezes, parece que estamos assistindo a uma simples conversa de bar engraçada entre amigos, com os personagens tirando sarro da situação que causaram.
Além disso, a linha de raciocínio é bastante confusa, principalmente nos minutos iniciais. E quando parece que vai engatar após a primeira meia hora, o documentário se dispersa e volta a ficar confuso. Fica nítida a falta de esforço com a produção em diversos momentos. Os fatos não se conversam e os depoimentos muitas vezes são jogados no meio de um assunto sem motivo.
Enfim, Os Reis da Fraude erra ao abordar tom sensacionalista em um documentário que poderia render bem mais. As únicas partes interessantes envolvem um especialista explicando como os golpes foram executados, e alguns depoimentos da polícia. Fora isso, nada tem muita atratividade. A história dos golpistas são rasas e repletas de futilidade. Não há motivos para alguém se interessar por ela.
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