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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Os Donos da Casa' avalia, com atraso, efeitos da Copa de 2014


O ano de 2014 foi marcante, histórica e socialmente, para o Brasil. De um lado, a sociedade estava fervendo por conta dos protestos que tomavam conta das ruas do País desde a metade de 2013, com uma escalada de violência (e de falta de coerência). Por outro lado, a Fifa chegou por aqui com a Copa do Mundo, tomando 12 cidades brasileiras de assalto -- fora, claro, o 7 a 1.


Chegando com um certo atraso, quando a discussão política e social parece ainda pior do que as preocupações daquela época, Os Donos da Casa procura discutir esse período, entender a sociedade e, principalmente, o que aconteceu por trás das cortinas do espetáculo. Há momentos de reflexão sobre os protestos, sociedade, futebol, pão e circo e, é claro, sobre a sombra da Fifa.


Mas, para humanizar esse debate e não ficar apenas no blá-blá-blá, o filme de Carla Dauden fala sobre quatro figuras bem distintas. Um menininho que sonha em ser jogador de futebol (e que teme encontrar o Michael Jackson na rua), uma família desapropriada para uma obra da Copa, a mulher que sonha em comprar seu carro com ganhos da Copa e um fã da Seleção Brasileira.


A partir disso, e com outras entrevistas que correm em paralelo para compor com mais precisão o cenário social brasileiro, vamos acompanhando esse mosaico brasileiro de 2014. É interessante esse recorte quase antropológico de Dauden, que sabe como esse período foi forte e marcante para a sociedade brasileira como um todo -- de fato, um divisor de águas no País.

Só que o filme, infelizmente, chega com atraso. Sete anos depois, quando é exibido na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a questão social e política do Brasil se deteriorou gravemente. O que é falado e discutido em cena, ainda que com análises de figuras como Juca Kfouri e Jamil Chade, acaba restrito em um tempo. Hoje, esses problemas parecem pequenos.


Além disso, tirando Chade e Kfouri, pouco de Os Donos da Casa busca trazer discussões que transcendem o raio-X daquela época. O longa-metragem é mais um registro histórico, para que gerações futuras compreendem melhor o que aconteceu no biênio 2013-2014, e como o País se transformou na tragédia ambulante entre 2018 e 2021, com eleição do inominável e afins.


Por fim, o longa-metragem de Dauden parece não se decidir sobre qual assunto quer abordar. Quer fazer um retrato sobre o Brasil em 2014, ok. Mas, para isso, precisa falar sobre política, economia, sociedade -- e futebol, já que é o ano da Copa no País. Só que a diretora mistura os assuntos, evita falar sobre política de maneira mais contundente e deixa tudo muito frio, vazio.


Dessa forma, ao final, Os Donos da Casa reforça sua aparência de atraso. Talvez um pouco mais de análise política e social, se aprofundando em máculas e até mesmo a influência do futebol na vida do brasileiro, poderia ter transformado o longa-metragem em uma produção com potencial de atravessar anos, períodos. Do jeito que ficou, é bom para relembrar um tempo que se foi.

 

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