George M. Koumal é um senhor de idade tcheco, morador dos Estados Unidos, que tem um sonho: conectar os Estados Unidos à Rússia por um túnel de cem quilômetros sob o estreito de Bering. É uma ideia grandiosa, até mesmo considerada maluca por muitos, que Koumal perseguiu ao longo de quase toda sua vida. Até que o dinheiro acabou, as possibilidades caíram. E é aí que surge o diretor Rick Minnich, sua câmera e o documentário Os Caras do Estreito.
Minnich surge nesse momento em que Koumal está falido, longe dos filhos e sem qualquer perspectiva desse túnel se tornar verdade. Até que surge o jovem Scott R. Spencer em sua vida. Ele é um engenheiro, especialista em grandes meios de transporte em trilhos, que vê esse túnel como uma verdadeira possibilidade de deixar sua marca na História. Ele se alia à Koumal e, juntos, voltam a rodar o mundo em busca de políticos e populações que apoiem essa ideia.
Os Caras do Estreito é, assim, um filme de observação: coloca o espectador como alguém que vai acompanhando todos os meandros dessa negociação. É impossível não torcer por Koumal e Spencer, pessoas que realmente se importam com aquela ideia e querem fazer dar certo. Há paixão nos sonhos e determinações dos dois, fazendo com que todos os desafios que surgem na frente da dupla se tornem dolorosos também para o espectador. Entendemos Koumal e Spencer.
Há uma queda de ritmo aqui e ali, com o documentário repetindo exaustivamente as mesmas situações e dilemas -- o que é natural, já que os dois protagonistas correm o tempo todo atrás do próprio rabo. Mas talvez Os Caras do Estreito fosse mais interessante se tivesse cortado uns 15 minutos, concentrando mais nos desafios, embates e desconfortos dos dois. Excessos, numa trama que se repete, acabam se tornando ainda mais visíveis e problemáticos que o normal.
No entanto, vale ressaltar que Rick Minnich entende Koumal -- o verdadeiro protagonista do filme -- como poucos. Sabe quais são suas dores, entende do que ele quer ou não quer falar, se coloca dentro das ideias e tropeços no caminho. Minnich, dominando a história, sabe como deixar o filme mais saboroso e, acima de tudo, sabe como conduzi-lo. Em mãos erradas, Koumal poderia ser apenas um chato, um senhor com uma ideia maluca. Aqui, é gênio incompreendido.
Os Caras do Estreito, assim, é um documentário muito rico. Fala sobre homens com sonhos e ideias firmes e que, apesar do mundo não ajudar, persistem e acreditam. Os Caras do Estreito é um filme de sonhos. E o final... Rick Minnich, novamente, compreende amplamente quem é Koumal. E, dessa forma, compreende como ele chega ao público. Por isso, termina com uma frase dolorosa, que bate com força no público, e que mostra a importância de sempre sonhar.
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