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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Onde Quer Que Você Esteja' emociona com desaparecidos


Tramas sobre pessoas desaparecidas sempre foram tratadas de maneira torta no cinema. Há alguns documentários excelentes (como o recente O Silêncio dos Outros), mas a ficção fica devendo. Geralmente, os desaparecidos acabam sendo relegados à filmes de ação ou suspense, mostrando cativeiros de reféns ou, ainda, perseguições alucinantes -- como os filmes Os Suspeitos, O Quarto de Jack e até Buscando...

Agora, um filme nacional segue uma linha dramática mais parecida com A Troca e Desaparecido para mostrar o sofrimento de pais, amigos e familiares ao lidar com a ausência de pessoas que sumiram sem deixar rastros. É o emocional longa-metragem Onde Quer Que Você Esteja, do casal de diretores Bel Bechara e Sandro Serpa, que resgata a trama de um antigo curta-metragem para ampliar e emocionar.

No filme, conta-se a história de um grande grupo de pessoas lidando com o desaparecimento de entes queridos. Nela, é possível encontrar maridos (Leonardo Medeiros), esposas (Debora Duboc), mães (Gilda Nomacce) e por aí vai. Todos se encontram num programa de rádio, de uma grande cidade brasileira, que exibe relatos de pessoas desaparecidas -- e, de vez em quando, trazem um reencontro emocional.

A partir disso, o roteiro da própria dupla de cineastas vai tecendo uma teia de acontecimentos, emoções e sentimentos que se cruzam. Essas pessoas, tentando se acostumar a lidar com uma ausência sem respostas, se entendem. Há uma compreensão mútua, na sala de espera do rádio, do que elas estão sentindo. É algo que não pode ser encontrado em nenhum outro lugar. É um sentimento muito único.

É delicada a maneira que Sandro e Bel tratam essas histórias. Ainda que haja um momento de riso involuntário aqui e algumas situações propositadamente patéticas ali, o cerne do longa-metragem apresenta essas histórias com uma proposta bem definida. Não há sensacionalismo, exagero nas emoções. A dupla de cineastas sabe tratar tudo com reverência e fazendo com que as emoções, e as tristezas, tomem conta de tudo.

O elenco também ajuda. Apesar de cada personagem lidar com a ausência inexplicável de alguma maneira, há uma compreensão de como tratar a emoção na telona. O silêncio diz muito nos gestos de Duboc (Latitude Zero), nos olhares de Medeiros (Kardec) e até nos suspiros quase apaixonados de Nomacce (Pedra da Serpente). Tudo trabalha para que a emoção apareça nas entrelinhas, nas falas não ditas, nos sofrimentos silenciosos.

Há um excesso de tramas que quase atrapalha. Por mais que Sandro e Bel tenham trabalhado para compactar as várias linhas narrativas, há um momento que tudo fica muito confuso. E a vontade é acompanhar algumas histórias em sua totalidade. A história da funcionária de um supermercado sobra no longa. É aquele momento que "corta o barato". A da família procurando um garoto, enquanto isso, é o ponto alto.

Isso, no final, quase acaba estragando a experiência -- muita coisa pra processar, logo a emoção aparece de forma mais difusa. Mas a forma que os cineastas/roteiristas amarram a trama nos momentos finais faz com que a emoção surja, com força, e sem vergonha. Ainda é difícil compreender o que um familiar de desaparecido sente. Mas o acolhimento que o longa-metragem provoca já é o suficiente pras lágrimas correrem.

 

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