Nem sempre a Netflix acerta, todos sabemos disso. Na verdade, não é tão difícil encontrar uns caça-níqueis pelo serviço de streaming. Um deles foi lançado nesta quarta-feira, 19 de outubro. Estamos falando de O 'W' da Questão, novo filme polonês do serviço. Embora a Netflix tenha feito um bom trabalho com outras produções polonesas, como Rede de Ódio e Entre Frestas (lançado na semana passada), seu novo filme deixa muito a desejar em todos os aspectos.
Dirigido por Piotr Mularuk, O 'W' da Questão conta a história de Magda (Anna Smolowik), uma mãe e esposa que vive na pacífica cidade de Podkowa Lesna, perto de Varsóvia. Uma noite, enquanto passeava com seu cachorro no parque, descobre um corpo de uma mulher recém-assassinada. Curiosamente, a mulher tinha um colar em formato de 'W' no pescoço, exatamente igual ao de sua melhor amiga, Weronika, desaparecida há muito tempo. Como Magna se declara uma leitora assídua de Agatha Christie, decide investigar o assassinato com o comissário Jacek (Pawet Domagata), mas acaba se deparando com um mistério mais profundo do que imaginava.
Apesar de ter uma premissa interessante, o enredo não consegue se sustentar depois dos primeiros 15 minutos. É uma forçação de barra atrás da outra. Quando chega na metade, os fatos se atropelam, se amontoando em uma bola de neve de incoerência. Talvez, a maior de todas está logo no início, descrito na sinopse acima. Ao se deparar com o crime e com Jacek, a protagonista vomita informações para o comissário e elabora várias teorias sobre o assassinato. Que horas foi cometido, quem pode ou não ser suspeito, como aconteceu e por aí vai.
A partir disso, Magda começa a investigar junto ao comissário, dando palpites precisos sobre o caso e indo atrás de testemunhas e possíveis suspeitos que ninguém havia pensado.
Mas como ela tem tanto talento para isso? O filme responde com uma simples frase: "leio muito Agatha Christie". No entanto, o espectador não tem um único aviso prévio sobre essa paixão pela autora e suas obras de suspense criminal. Nem mesmo para mostrar a personagem lendo no começo do filme ou falando sobre o assunto. Em outras palavras, a história apenas se desenrola devido a um simples hobby da personagem, esclarecido em uma frase solta, tirada do além.
Verdade que a principal motivação de Magda não é resolver o caso e se tornar uma heroína, e sim descobrir o paradeiro de sua melhor amiga, que desapareceu sem deixar rastros. Porém, agora, Magda tem uma pista importante e vai fazer de tudo para ir atrás de Weronica. Apesar de ser um estímulo interessante, que de fato agrega muito para a protagonista, não há desenvolvimento na personagem – além de gostar de Agatha Christie.
Aliás, falta desenvolvimento em todo o resto. Nos coadjuvantes, nos suspeitos, na trama… Nada na narrativa é o suficiente para prender a atenção do espectador, nem mesmo os personagens. Nenhum é relevante ou carismático. Inclusive, um detalhe interessante do comissário Jacek, é que ele começa o filme sendo uma tentativa de alívio cômico canastrão, mas, do nada, transforma-se em um policial sério.
E não poderia faltar a cereja do bolo: o filme tenta referenciar Psicose, uma das maiores obras de Alfred Hitchcock, porém a execução é feita de forma vergonhosa. Nada tem cabimento. Trazem uma trilha sonora instrumental, composta por acordes de violino, remetendo ao filme de 1960, mas completamente fora de tom; a cena de abertura, lembrando um suspense de época, também não condiz com o resto. Fizeram até mesmo uma cópia quase direta da icônica cena da facada, com os movimentos dos atores e enquadramentos de câmera idênticos.
Enfim, O 'W' da Questão propõe um desafio interessante no início, porém só se atropela o tempo todo. Muito difícil de se apegar aos personagens, tampouco ao mistério que a história tenta propor. Nem o final se salva de tão confuso e aleatório. Quer um suspense envolvente e minimamente coeso? Então, não procure este. É mais um esquecível da Netflix. E como se trata de um filme de serviço de streaming, isto é, para ser visto em casa, entediar-se da história e optar por mexer no celular é só uma questão de tempo.
Ou eu, ou esse suposto colega jornalista, não entende nada de cinema.
Achei um filme agradável, gostoso de assistir, ansioso pela cena seguinte, sem vontade de interromper.
Recomendo.