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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Vento Mudou' é bom filme sobre autodescoberta e transformação


Parte integrante da programação do 8º Panorama do Cinema Suíço, o longa-metragem O Vento Mudou é uma daquelas típicas produções sobre transformações. A começar pelo casal de protagonistas, Pauline (Mélanie Thierry) e Alex (Pierre Deladonchamps), que decide largar tudo e ir morar numa área afastada. Isso, porém, é só o início desse árduo processo de redescoberta.


Afinal, tentando levar ao máximo uma vida natural, eles contratam uma empresa para instalar uma daquelas turbinas eólicas. É nesse momento que entra Samuel (Nuno Lopes), um engenheiro que coloca a vida daquela pacata e bucólica casa de pernas para o ar. Pauline se apaixona, a vida do casal de protagonistas dá uma guinada e começa, aí, a tal transformação.


A cineasta Bettina Oberli (de Adorável Louise), o tempo todo, se vale de dicotomias para acelerar o processo de discussão em torno da vida de Pauline, principalmente. Com uma atuação poderosa de Thierry (Destacamento Blood), que sabe colocar grande parte de sua atuação nos silêncios e vazios, o filme vai ganhando camadas de interrogação e de aprofundamento mental.

Assim, quando menos se espera, o espectador é colocado em condição de plateia nesses dilemas que surgem como uma fagulha, se desenvolvem e se transformam em monstros que ceifam a vida que as pessoas levam -- não é à toa, afinal, que a morte está frequentemente retratada aqui no porquinho atropelado, no bezerro que nasce morto, em Alex com a foice.


É preciso matar para transformar. Navegando nessa premissa, Oberli mostra como a tal morte -- de maneira figurativa, na maioria das vezes -- pode chegar de um supetão ou, ainda, ir se transformando. É um filme complexo e completo nesse sentido, quando a cineasta se propõe a retratar um quadro intrincado a partir de uma personagem que quer matar seu passado.


Infelizmente, porém, o roteiro da própria diretora acaba cometendo alguns exageros e enfrenta, no final, algumas pontas soltas. A presença da jovem garota de Chernobyl quase nada acrescenta à história, apenas servindo como catalisado em alguns momentos -- papel este que poderia ser da irmã, por exemplo. Um tempo perdido que poderia servir para outras coisas.


Mas, quando sobem os créditos, a sensação é boa. O Vento Muda, a partir de suas figurações (inclusive algumas óbvias, como o símbolo fálico da turbino) e transformações, sabe falar e se aprofundar num tema já tão abordado nos cinemas. No final das contas, sempre tem mais um espaço e uma boa história para contar. Felizmente, Oberli encontrou essa outra história.

 
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