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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Último Trago' é experimentalismo pretensioso


Assumo que pensei várias vezes antes de colocar o termo "crítica" no título acima. Você, leitor, pode reconsiderá-lo a seu bel prazer. Afinal, críticas são textos analíticos sobre filmes, livros e outras obras que possam ser interpretadas e, a partir disso, classificadas -- seja pro avaliador ou pro público. O Último Trago, longa-metragem que estreou nos cinemas nesta quinta, 28, não entra facilmente nesse espectro. Lotado de experimentalismos, o filme não é pra qualquer um. Pra mim, pelo menos, não é. Não faz sentido, é cheio de experimentações baratas e, no final, dá um gosto amargo na boca.

O longa-metragem é obra da produtora cearense Alumbramento, que leva coletivos de artistas para o cinema com a proposta de romper barreiras da linguagem e das formalidades. Foi assim com o bom Estrada Para Ythaca, por exemplo, que é repleto de quebras com as expectativas e, mesmo assim, faz sentido. Aqui, essas quebras acontecem de todos lados, indo desde o formato de tela até a narrativa. É tanta novidade, tanta coisa fora do lugar, que fica estranho, difícil e desanimador mergulhar na história. Não dá pra entender nada. Quem diz que compreendeu tudo, ou é gênio ou é mentiroso.

A base da história, porém, dá pra sacar. Acompanha o espírito de uma indígena que busca uma espécie de vingança -- ou seria retratação? -- em diferentes épocas, locais, espaços. É uma viagem espiritual que, em suma, quer ser bem mais profunda do que é.

A partir disso, a trinca de diretores (Luiz Pretti, Ricardo Pretti e Pedro Diógenes) comanda três diferentes arcos, com três diferentes histórias, sobre a influência dessa indígena morta. Há muitos desejos em jogo ali e isso é evidente. O trio de cineastas quer quebrar as convenções, quer falar sobre espiritualidade, sobre rixas religiosas, sobre medo e coragem. É uma salada. Afinal, para isso, não usam de uma narrativa tradicional. É, na verdade, um amontoado de cenas que possuem pouco ou quase nada em comum. É entediante compreender aqueles experimentalismos todos. Chato, até.

Afinal, qual o objetivo desse cinema? Experimentalismos, obviamente, são bem-vindos. Sem eles, não existiriam diferentes gêneros, diferentes escolas, diferentes leituras de mundo e da sétima arte. Mas qual o limite? O que separa um filme de um amontoado de gravações experimentais? A narrativa, talvez? Em O Último Trago, sem dúvidas, há uma narrativa. Mas é superficial, pouquíssimo evidente, e que deve passar despercebida pela maioria dos espectadores. O exercício para ela fazer sentido vai muito além da mera interpretação. Este filme exige que o espectador preencha lacunas além do esperado.

Isso acaba fazendo com que O Último Trago tenha um público muito limitado. Eu, pelo menos, sei que não sou. Há valor na fotografia, em algumas atuações -- principalmente de Elisa Porto, que canta maravilhosamente bem. É bonito de ver em alguns momentos. Mas só. Não há uma história a ser acompanhada, não há empatia entre filme e espectador. Muito teatral, muito exagerado, muito no mundo das ideias. Pode ser que pessoas gostem. Pessoas que são fãs de anti-filmes, de produções que vão na contramão do que é feito. Quem gosta de boas histórias, porém, vai se decepcionar.

 

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