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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Tremor' é filme estranho sobre busca e frustração


Depois de O Problema de Nascer, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2020 volta a nos entregar um filme estranho. Estranhíssimo. Dessa vez, porém, nada do tom perturbador desse outro filme de Sandra Wollner. O Tremor, longa-metragem indiano de tom existencialista e de busca pessoal, está mais para um estranho vazio, jogado no mundo, em busca de propósitos.


Afinal, veja a trama: um jornalista (Rajeev Anand) recebe a informação de que um pequeno vilarejo foi atingindo por um intenso terremoto. Está tudo destruído. Animado para a primeira cobertura desse tipo, ele pega seu SUV branco e parte para o local. No entanto, ao chegar lá, nada de destruição. Encontramos apenas habitantes desinteressados com a sua existência.


E é isso. A partir dessa premissa, o cineasta estreante Balaji Vembu Chelli acaba desenvolvendo uma trama de busca -- que, mais do que o desejo de encontrar um terremoto de fato, acaba revelando desejos, intensões e anseios do próprio personagem. É um filme também de tom existencial, como O Problema de Nascer, mas que passa pela frustração de sua existência.

É interessante perceber, afinal, como o protagonista não quer fantasias, mitologias, reflexões. Ele quer o fato. No entanto, no meio do caminho, encontra habitantes descontentes com sua presença, outros que pregam pegadinhas e fazem piadas. Não é à toa que Chelli flerta com um realismo fantástico moderno, com a presença de alguns espíritos e até influências do cosmos.


No entanto, uma pena, o cineasta acaba derrapando em seus anseios metafóricos e existenciais. O filme não progride e acaba empacado nessa busca do protagonista. Mesmo tendo menos de 1h20, vemos vezes demais o personagem rodando com seu carro por aí, em busca de vagas e do tal vilarejo. Há excessos. É claro que O Tremor funcionaria melhor como curta do que média.


Além disso, por mais que a trilha sonora seja o destaque absoluto do filme, o clima e a ambientação da produção não vão pra frente. Há uma discussão intrínseca ao que está sendo contado sobre o papel do jornalismo em tragédias como essas, mas que nunca ganha o impulso necessário. O Tremor acaba sucumbindo como um filme morno, que nunca atinge discussões.


E é uma pena. Afinal, a boa premissa está lá, o campo está preparado para a discussão e a ambientação é mais do que acertada. No entanto, apesar desse início propício e o bom aparato técnico do diretor indiano, o longa-metragem nunca consegue pegar o fio da meada. Fica ali, no meio do caminho, sem conseguir vencer seus próprios anseios como um filme existencial.

 

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