É curioso como o drama parece cada vez mais unificado e plastificado em todo o mundo, enquanto a comédia continua a ter particularidades regionais bem delimitadas. A França, por exemplo, tem um humor irônico, que corre pelas entrelinhas, e faz rir quase sem querer. O Brasil, enquanto isso, aposta no humor histriônico, mais corporal, e faz rios de dinheiro por aí. Já a Itália tem ido cada vez mais na direção de um humor social, em um reflexo quase imediato dos problemas políticos que o país europeu tem passado.
O Rei de Roma, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 7, é mais um desses casos. Dirigido por Daniele Luchetti (Meu Irmão é Filho Único), o filme conta a história de Numa Tempesta (Marco Giallini), um financista que está prestes a iniciar um grandioso projeto no Cazaquistão, mas acaba sendo condenado por evasão fiscal. É nesse momento que ele começa a se conectar com um grupo de pessoas mais simples, do serviço social que é obrigado a prestar, e ver a vida -- talvez -- com outros olhos.
O grande ponto alto do filme são seus personagens e seus atores. O elenco que faz os pobres do serviço social estão excelentes em seus papéis -- principalmente Franco Boccuccia e Elio Germano. A química entre eles é invejável e as cenas com o protagonista funcionam na tela. Giallini, que já tinha apresentado um ótimo trabalho em Perfeitos Desconhecidos, volta a mostrar que é um bom ator italiano. Consegue entrar no personagem com exatidão, convencendo completamente o espectador.
O problema de O Rei de Roma está, então, no roteiro de Giulia Calenda (Algo de Novo), Sandro Petraglia (Suburra) e do próprio Luchetti. Ainda que tenha aspectos interessantes, como a relação de Tempesta com as pessoas tratada pelo serviço social, grande parte da história acontece aos solavancos e não passa de "divertidinha" -- deve ser difícil encontrar alguém que ache o filme hilário ou muito divertido. Culpa disso está no desenvolvimento do protagonista, que possui atitudes incertas e aprofundamento raso. Fica difícil entender, pelo lado do espectador, se deve se compadecer dele ou não.
Além disso, há algumas subtramas completamente aleatórias na história e que ficam sem contexto. Em determinado momento, por exemplo, Tempesta entra numa espécie de romance que acaba de maneira desastrosa. E daí? O que mais tem pra contar ali? É só isso? Outra coisa: logo no começo, o protagonista sai com prostitutas o tempo todo. Porém, assim que entra no serviço social, esses encontros cessam. Mas nada é muito bem explicado. Menos ainda quando Radiosa (Simonetta Columbu) começa a sair com Bruno (Elio Germano). É uma sucessão de eventos que não são lógicos ou coesos.
O Rei de Roma é uma comédia divertidinha e que, mais uma vez, explora os problemas sociais do "país da bota". Tem um elenco afinado, que cria uma química inigualável em tela e ajuda a elevar o tom geral da produção. Pena que a história não acompanhe e acabe ficando em mais do mesmo -- ou, quando tenta inovar, vai por caminhos que não fazem sentido. Poderia ser muito melhor. Mas também poderia ser muito pior. Fica no meio do caminho. E serve para rir e se distrair com o cinema italiano num dia qualquer.
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