Depois de começar a manhã com uma experiência pra lá de ruim com O Som do Caos, continuei dentro da plataforma da Netflix para enfrentar mais um lançamento deles. Chegou o momento da produção francesa O Rei das Sombras, também estreia desta sexta-feira, 17. No entanto, enquanto o outro filme é uma porcaria, para falar o português claro, este é uma boa surpresa.
Dirigido e roteirizado por Marc Fouchard (de Hors du monde), o longa-metragem se concentra principalmente na história de Adama (Alassane Diong). Ele é cego, depois de sofrer um acidente na infância, e tem uma família disfuncional: é filho da segunda esposa de seu pai, que mantém o casamento com a primeira, e precisa lidar com o meio-irmão líder de uma gangue (Kaaris).
As coisas até que vão bem, com os dois se suportando pela cidade, até que o pai morre. É aí que O Rei das Sombras finalmente começa. Ibrahim, esse irmão criminoso, se sente à vontade para começar a colocar as asinhas de fora. Passa a ser mais violento, oprime ainda mais o tal irmão cego. É difícil não sentir raiva do personagem, um dos mais detestáveis de 2023 até agora.
Em termos estéticos e narrativos, o longa-metragem traz poucas novidades. Fouchard não é particularmente habilidoso para criação dos personagens, apostando em alguns chavões -- a forma que o cego é extremamente habilidoso com sons, como se tivesse um poder; a forma que Ibrahim trata os outros, sempre com profundo desprezo; a relação um tanto óbvia entre eles.
No entanto, emoção fala mais alto do que a razão em O Rei das Sombras. Apesar da banalidade técnica da coisa, você torce por Adama e sente raiva pelo irmão miliciano. Tem torcida, tem sofrimento. Mesmo com várias narrativas óbvias para seguir nesse caminho, como a cena com o cachorro, dá para passar batido por isso e realmente sentir essas emoções à flor da pele.
Muito desse resultado positivo surge por conta das boas atuações do elenco. Diong (Father & Soldier) é uma nova estrela do cinema francês, tenho certeza disso. Sabe como construir seus personagens no detalhe. E Kaaris, que também é rapper, surpreende: a atuação é brutal, violenta. Muito da raiva de seu personagem nasce a partir da solidez de sua boa interpretação.
Com isso, O Rei das Sombras termina com um saldo positivo. Ainda que apostando em algumas obviedades, o longa-metragem mexe com o nosso âmago. Podia ser menos espetaculoso, sem aquela parte mística e sem a pegada Demolidor no final. Mas, confesso, fiquei curioso de acompanhar mais da jornada de Adama dentro desse universo cheio de violência e opressão.
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