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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Professor Substituto' abusa do pessimismo em trama intensa


Pierre (Laurent Lafitte) é um professor incumbido de substituir um colega que tentou se suicidar enquanto dava aula. No entanto, mais do que jovens preocupados ou impressionados, ele encontra uma sala difícil de lidar. Afinal, seus alunos são superdotados e, aos poucos, vão mostrando uma face sombria e extremamente pouco amigável. Ao invés de ser o conselheiro da turma, então, Pierre acaba se tornando uma espécie de investigador, que tenta entender o que acontece com aquele grupo de jovens.

Dirigido por Sébastien Marnier (Irrepreensível), O Professor Substituto se debruça sobre essa relação entre mestre e pupilos. No entanto, o que começa parecendo ser mais um filme banal sobre a vida na escola, ainda mais depois de um acontecimento difícil, revela-se como sendo um longa-metragem moderno, antenado com discussões mais do que atuais, e que tenta pintar um quadro complicado sobre a juventude de hoje. Afinal, são pessoas que chegam com terrorismo, desastres ambientais, matança por todo lado.

Marnier, sem dúvidas, é um diretor habilidoso. Apesar de ser um drama profundo, muito calcado nas questões ambientais, o cineasta usa e abusa de elementos do horror e do suspense para comandar essa trama escrita por ele próprio. Ao invés de caminhar pelas opções óbvias do trama, como cenas com reflexão, ele vai para cenas que ficam no limite do sonho e realidade. Sequências com baratas são impressionantes e uma outra, à noite, é particularmente perturbadora. Lembra algum bom filme de horror americano.

Lafitte (Elle) se sai bem no papel de um professor que não consegue entender completamente a situação de seus alunos e, muito menos, as dores que afetam novas gerações. É interessante ver como ele mergulha nessa trama repleta de situações estranhas e pouco compreensíveis. O espectador pode ser ver claramente em Lafitte.

O principal tropeço do filme, e que derruba muito a sua qualidade, é o pessimismo exacerbado da trama. Ela mergulha os jovens alunos num niilismo difícil de ser totalmente compreendido. Foi por causa do professor? Foi antes disso? Foi por causa da inteligência exagerada? De onde, afinal, surgiu essa descrença absurda no mundo e que, de certa forma, contamina a condução de Marnier? É difícil de entender e, principalmente, de embarcar na ideia do cineasta e roteirista. É preciso ter algo por trás.

A justificativa que O Professor Substituto traz tem respaldo na realidade, mas... até que ponto isso é crível? Até que ponto a humanidade, afundada em ignorância, democracias falidas e falta de preocupação com o outro, cria jovens tão desiludidos? Eu, particularmente, não comprei a ideia. Os atores mirins também não ajudam a criar o vínculo necessário com a audiência. Afinal, por mais que sejam jovens desiludidos com o entorno, eles precisam transmitir algo através da tela. Aqui, não aconteceu nada.

Assim, O Professor Substituto é um filme com uma boa ideia, um cineasta cada vez mais promissor e um ótimo ator principal. De resto, porém, deixa a desejar. O pessimismo exagerado toma conta do longa-metragem como um todo, quase que impossibilitando uma apreciação mais interessante do que Marnier tinha a dizer. Falta mais expressão, faltam cenas que conduzam melhor a narrativa para seu desfecho niilista, com personagens ainda mais traumatizados. Bom, mas pouco completo.

 

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