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  • Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Poço 2', da Netflix, se contenta em repetir as mesmas fórmulas


Não tem nem discussão: O Poço é um dos filmes mais emblemáticos na história da Netflix. Chegou ao catálogo junto com a pandemia e se tornou um dos principais assuntos na primeira semana de confinamento -- aqui no Esquina, um texto falando sobre o filme espanhol é o mais lido na história do site. Agora, quase quatro anos depois, estreia o aguardado O Poço 2.


Dirigido novamente por Galder Gaztelu-Urrutia, o longa-metragem deixa a história de Goreng no passado para focar em Perempuan (a apaixonante Milena Smit, de Não Matarás). Ela é uma jovem, de passado misterioso, que tem o mesmo objetivo de todos ali no sistema d'O Poço: viver.


No entanto, assim como aconteceu no primeiro longa-metragem, as coisas nem sempre saem como o esperado. Para quem não se lembra, funciona assim: uma plataforma cheia de comida vai descendo, andar por andar, para que as duas pessoas em cada plataforma comam o que lhe é de direito. Para isso, precisam contar com a bondade das pessoas nos andares logo acima.


Afinal, se alguém acima resolver comer sua comida e não ligar para quem está abaixo, as coisas logo saem do controle. Não haverá comida para todo mundo nos mais de 400 níveis.


É um jogo de sobrevivência com claras implicações sobre o que é o capitalismo e sobre como nos comportamos como sociedade. Sem muita sutileza, Gaztelu-Urrutia fala sobre como os mais abastados não se importam com quem está abaixo, mesmo que essa pessoa não esteja no nível máximo. E como diz a música, "o de cima sobe e o de baixo desce". A mesma coisa aqui.



Infelizmente, O Poço 2 é isso -- de novo. Ao invés de se dedicar a fazer algo novo, explorando as possibilidades desse mundo (e, quem sabe, rompendo as barreiras do poço), o cineasta e roteirista se contenta em apenas repetir a mesma fórmula, novamente com alguém tentando (e falhando) em aceitar as condições impostas e sobrevivendo. Goreng é Perempuan.


Aqui, a única coisa nova é um comentário sobre autoritarismo, quando insere uma espécie de ditador dentro do sistema. Novamente sem qualquer sutileza, Gaztelu-Urrutia fala sobre como os sistemas políticos e econômicos funcionam: aqui, defende como um sistema socialista bem azeitado pode ser mais justo, mas que abre brechas para justiceiros e autoritários.


Mas não há grandes lampejos criativos aqui, fugindo bastante da ousadia. Fica a sensação de que o diretor espanhol quis tocar em um vespeiro, mas na primeira ferroada já saiu correndo, com medo do que poderia vir a seguir. Há potencial em O Poço 2, mas difícil fugir da sensação de que é mais do mesmo, quando simplesmente repete a mesma história e a mesma estrutura.


Pelo menos, por outro lado, dá para dizer que a história de Perempuan é mais instigante do que toda a jornada de Goreng. Ela é uma personagem bem mais marcante, com camadas mais complexas (ainda que nem sempre bem exploradas no roteiro), e com uma boa atuação de novo de Milena Smit, que se revelou como uma das grandes atrizes espanholas da atualidade.


Enfim: O Poço 2 não surpreende e parece estar bastante confortável em ser, como sequência, apenas um eco do que foi o filme original, tentando repetir o sucesso sem nunca, em momento algum, encontrar um novo caminho a seguir por mais que esses caminhos já estivessem abertos, logo à frente. Faltou coragem de ser mais provocativo. Espaço, pelo menos, havia.

 

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