Um Homem Chamado Ove, filme sueco de 2015, fez um inesperado sucesso ao redor do mundo. Fez boa bilheteria, abocanhou indicações ao Oscar. Natural, então, que oito anos depois surja uma adaptação dos Estados Unidos com O Pior Vizinho do Mundo, estreia nos cinemas brasileiros desta quinta-feira, 26. Produzido e estrelado por Tom Hanks (Elvis), o filme faz um remake básico, como esperamos dessas adaptações americanas, mas que sabe emocionar.
A história acompanha Otto (Hanks), um senhor rabugento que desistiu da vida após a perda de sua esposa e quer acabar com tudo. Mas, quando uma jovem família se muda para as redondezas, ele encontra um refresco com a perspicaz Marisol (Mariana Treviño), levando a uma amizade que mudará seu mundo. É uma trama óbvia e um tanto batida, mesmo antes do filme sueco ganhar o mundo, mas que funciona por um motivo bastante específico: sabe fazer chorar.
Ainda que dirigido pelo fraquíssimo Marc Forster (007: Quantum of Solace), o longa-metragem tem coração. Obviamente, se vale de muitos acertos do original para construir essa narrativa e, nos erros, tenta encontrar soluções -- como a relação com a vizinha, que nesta versão norte-americana é muito mais viva e verdadeira. Hanks também se sai muito bem: ainda que reciclando o que Rolf Lassgård fez muito bem, ele encontra particularidades para seu Otto.
Nós, do lado dos espectadores, encontramos profundidade nesse personagem cansado da vida e, se nos entregamos sem reticências ao filme, esquecendo um pouco da versão original, a emoção surge naturalmente. Pessoas reconhecem pessoas. E nada mais natural do que sentir o que elas estão sentindo. Tudo isso ainda com flashbacks bem encaixados e que, apesar da atuação mecânica de Truman Hanks, permitem uma espiada no passado desse personagem.
De resto, alguns problemas pontuais -- e que podem, sim, causar distanciamento do público da história. É o caso da personagem de Mariana Treviño (Club de Cuervos). É absolutamente surreal como ela é uma latina escrita, a partir do roteiro de David Magee (As Aventuras de Pi), apenas a partir de estereótipos. Ela grita, ela é emotiva demais, ela não tem papas na língua. Simplesmente não tem vida, apesar dos bons efeitos da relação dela com o vizinho Otto.
Com isso, faltam personagens secundários realmente fortes para amparar a jornada do protagonista -- um problema também existente na versão original. Mas tudo bem: o fato é que, ao enxergarmos Hanks não apenas como Otto, mas como todos essas pessoas mais velhas que fazem parte de nossa vida, nos emocionamos. E isso justifica o choro incontido na cabine de imprensa, com vários colegas chorando sem parar. O Pior Vizinho do Mundo vale a emoção.
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