Já diria o saudoso Rubens Ewald Filho: é praticamente impossível suportar um filme que tem quase toda sua narrativa baseada em voice over -- a boa e velha narração. Não dá. Não apenas o filme trata o espectador praticamente como burro, contando tudo em seus mais mínimos detalhes, como a experiência se torna exaustiva. É quase como acompanhar um audiobook por duas horas. E é justamente essa experiência exaustiva que proporciona o filme O Perfumista.
Dirigido por Nils Willbrandt (Tatort) e inspirado em um livro de Patrick Süskind, o longa-metragem fala sobre uma detetive que não está sentindo cheiros. Decidida a recuperar o olfato, ela e o namorado cruzam o caminho de um perfumista que usa métodos letais em sua busca pelo aroma perfeito. A partir daí, essa produção alemã começa a investigar crimes da maneira mais banal possível -- enquanto o criminoso mata as vítimas de maneiras pouco convencionais.
Pra começar, como já dito, O Perfumista tem esse problema gravíssimo de ter voice over ao longo de toda sua jornada. É muito blá-blá-blá, muita conversa, muita explicação. O filme deixa pouquíssimo para o espectador ver, pensar e refletir. Tudo é mostrado de bandeja, fazendo com que a experiência seja mastigada e nunca amplificada. Isso limita a forma que a investigação é retratada e, até mesmo, para as atuações -- todos estão fracos em cena, prejudicados pelo texto.
O pior, porém, é que Willbrandt logo começa a inserir elementos para tentar criar, na tela, as sensações dos perfumes criados pelos criminosos. Ainda que no começo seja interessante, isso logo vai fazendo com que a trama perca volume e tração. Parece não ter foco, disciplina, profundidade. O cineasta se perde em suas intenções e O Perfumista entra em uma bola de neve. No final, nem queremos saber o desfecho. Queremos apenas que o filme termine logo.