Vamos deixar uma coisa bem clara: Ó Paí, Ó 2 está sofrendo um processo de boicote absolutamente injusto e político por parte da conservadores. Fazem campanhas para que as pessoas não assistam ao filme e fazem ataques com notas baixas em plataformas como IMDb. Absurdos, pra variar e que não são justos para o processo audiovisual democrático no País.
Dito isso, vamos lá: o novo longa-metragem estrelado por Lázaro Ramos e que estreia nesta quinta-feira, 23 de novembro, é uma espécie de libelo à liberdade dos corpos, à negritude, ao coletivo e sua força social. Temas deveras importantes, mas que ficam soterrados num roteiro capenga mais preocupado em trazer discursos do que realmente contar boas histórias.
Tudo aqui, em uma história assinada a seis mãos por Daniel Arcades, Elísio Lopes Jr. e pela diretora Viviane Ferreira, começa com Neusão (Tânia Tôko, genial como sempre) perdendo seu bar para um golpe imobiliário. O Pelourinho está rachado, assim como o resto do Brasil, por opiniões divergentes. Mas a causa de Neusão pode ser o caminho para que todos os personagens, incluindo Roque (Lázaro Ramos), se conectem com uma causa compartilhada.
É uma ideia boa, mas que passa muito longe do que existe no roteiro do primeiro filme, lançado há 15 anos. Aquele outro filme tem muitos comentários sociais e atuais, analisando o Brasil a partir desse microcosmos, mas uma história ligando esse panteão de personagens que se conectam por conversas, por pensamentos e por notas de dinheiro que correm de mão em mão.
Ó Paí, Ó 2, assim, até tenta construir algumas histórias para trazer essa seriedade e, acima de tudo, a complexidade dos tempos atuais, mas fica muito distante de tudo que já vimos nessas produções. A seriedade do assunto envolvendo Dona Joana (Luciana Souza), por exemplo, é uma boa ideia, mas que nunca é aproveitada ao máximo. Apenas arranha a superfície da trama.
Neusão, que é o grande destaque do primeiro longa-metragem, some e muito da graça do filme se perde -- aliás, vale dizer como Ó Paí, Ó 2 é bem menos divertido, justamente por conta da busca desenfreada por discursos políticos e sociais que soterram a trama. Compreende-se essa necessidade de alinhar o tema com o Brasil de hoje, mas fica desconfortável quando exageram na dose. Até Roque, por exemplo, apenas repete a trama anterior e fica reproduzindo teses.
Falta sagacidade, leveza e equílibrio para o filme. Ainda que muitos não concordem com a minha visão de Barbie, acredito que são problemas bem similares: a vontade de falar sobre muitas coisas de nossa sociedade, a trama fica prejudicada em prol dos discursos. Em Ó Paí, Ó 2, também temos muitos personagens, muitas histórias prestes a acontecer, mas que acabam não encontrando caminho no meio de tantas palavras e ideias que jorram no texto politizado.
Obviamente, pra deixar claro, não há problema algum do filme ser politizado. Pelo contrário. O problema é quando não temos uma história para naturalizar esse encontro de ideias políticas e sociais com o audiovisual. O cinema perde força e, no final, encontramos apenas esses discursos, que são realmente importantes e necessários, mas que exageram demais na dose.
Não acompanhei nenhuma campanha de boicote. Mas sério, o filme é terrivelmente ruim.
As notas IMDB são reflexo de um filme muito aquém da mediocridade. Uma pena!
Assisti o filme. O Cine vazio com 16 pessoas. O filme é muito ruim mesmo. Nem precisa de boicote pois por si só ele se acaba na mediocridade.