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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Mundo de Glória' tenta ser Ken Loach, mas não chega perto


Amado por muitos e criticado por outros, Ken Loach é um cineasta que está deixando sua marca no cinema britânico. Afinal, com um estilo realista e provocativo, o diretor traz temáticas sociais importantes e que discutem como a economia está afetando negativamente a vida das pessoas. Muitos, porém, não gostam do cineasta pela falta de sensibilidade e otimismo no trato de temas.


Essas pessoas, então, teriam um colapso nervoso ao assistir O Mundo de Glória, novo longa-metragem do francês Robert Guédiguian. Aqui, acompanhamos a história de uma família disfuncional. O pai acaba de sair da prisão, a mãe trabalha em turnos dobrados, a filha acaba de ter uma bebê e pena em uma loja de roupas, enquanto o marido tenta uma vida como Uber.


No entanto, como esperado, as coisas vão rapidamente saindo dos trilhos. Sem nenhum tipo de sensibilidade ou sutileza, Guédiguian faz o mundo colapsar na cabeça dessa família. A mãe passa a ter problemas com o sindicato, o padrasto é autuado por policiais enquanto exerce seu trabalho como motorista de ônibus, o genro é agredido por taxistas... Uma tragédia sem fim.

Novamente, são esses problemas na narrativa de Loach elevados ao quadrado. Não há escapismo para o espectador, não há refrescos. Parece que a vida é uma eterna e triste tragédia em três atos. Além disso, Guédiguian não é Loach. O diretor de Uma Casa à Beira Mar não sabe trazer a temática social e econômica à baila com delicadeza ou precisão. Tudo é jogado na tela.


A sensação é de que o cineasta, que assina o roteiro ao lado de Serge Valletti, tinha alguma coisa muito importante a falar sobre uma França que não é vista -- algo que sempre aparece não só no cinema de Loach, como também recentemente no japonês Assunto de Família. Mas, para isso surtir o efeito desejado, é preciso lapidar a história. Trazer olhares e, claro, não ser maniqueísta.


Guédiguian, infelizmente, caiu no caminho fácil em O Mundo de Glória. Não há choque, não há originalidade, não há provocação. Há apenas um amontoado de acontecimentos trágicos que parecem não ir a lugar algum. Pelo menos algumas subtramas são interessantes (de Mathilda e da irmã, principalmente) e o elenco está bem. Afinal, de resto, infelizmente pouco se salva...

 
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