O cinema coreano está com tudo. Depois do sucesso absoluto do cinema de Bong Joon-ho com Parasita, o cineasta Hong Sang-soo começa a fazer cada vez mais barulho no circuito cinéfilo de todo o mundo. Seus filmes, que ultimamente seguem uma linha mais lenta, simples e contemplativa, chama a atenção pela simplicidade narrativa, mas com grande força reflexiva.
É o caso de Na Praia à Noite Sozinha, O Dia Depois e, agora, O Hotel às Margens do Rio, longa-metragem que chega com exclusividade para aluguel no streaming À La Carte. Em preto e branco, o longa-metragem acompanha duas histórias ambientadas em um mesmo hotel. Em uma, um poeta acha que vai morrer. Em outra, uma jovem tenta se animar após uma traição.
A partir disso, Sang-soo faz um cinema de contrastes, metáforas e sensações. Afinal, por mais que ambas as narrativas pareçam não ter nada em comum, elas acabam entrando em contato a partir de diferentes perspectivas que emanam dos dois dilemas. Afinal, a jovem quer continuar a vida e dar a volta por cima. Já o poeta, em contato com seus filhos, aceita o fim de um ciclo.
É estonteante algumas das imagens captadas por Sang-soo e as reflexões que partem a partir delas. Numa das sequências, onde a jovem está com a amiga num cenário cheio de neve, não se vê o horizonte. É só uma linha contínua. E assim, de maneira simples e sem enfiar goela abaixo do espectador, Sang-soo produz uma sequência aparentemente banal, mas que diz muito.
Os atores transitam brilhantemente em planos sequências longuíssimos e conseguem se virar em cenas sem cortes -- principalmente Kwon Hae Hyo (O Dia Depois) e a belíssima Kim Min Hee (A Câmera de Claire), queridinhos do diretor. Obviamente, não é uma cinema convencional. É lento, reflexivo, contemplativo. É preciso vencer a barreira do ritmo para, enfim, se encontrar.
Uma pena, porém, que O Hotel às Margens do Rio não tenha a mesma complexidade que trabalhos mais recentes do diretor, como O Dia Depois e, é claro, Na Praia à Noite Sozinha. É um filme que acaba se repetindo em algumas ocasiões e pecando narrativamente. Uma voz em off, que tenta registrar os pensamentos de personagens, acaba mais cansando do que inovando.
Além disso, há o sentimento de que faltou uma balização entre as duas narrativas. A trama do poeta ocupa muito mais tempo e espaço. Enquanto isso, a história da jovem é deixada de lado e não cumpre todas suas funções. Muita coisa acaba ficando de fora, sem um arremate final e sem ter algum sentido propriamente dito na trama. Uma pena. Poderia ser mais equilibrado.
Mas, ainda, assim, O Hotel às Margens do Rio é mais um excelente exemplo do que o cinema sang-sooniano pode fazer. Pessimista e com um humor bem particular, o cineasta está aqui para rir da miséria humana e mostrar a que ponto o ser humano pode chegar. É lento e com problemas, sim. Mas é um filme que, no final das contas, acaba ficando preso na memória.
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