Robert Eggers é, sem dúvidas, um dos principais nomes do cinema contemporâneo, com um olhar para histórias que vão direto no âmago da sociedade -- seja a questão bíblica de A Bruxa ou o olhar junguiano de O Farol. Agora, Eggers mergulha na mitologia nórdica, com especial atenção para a cultura e sociedade dos vikings, na Idade Antiga, com o violento, brutal e poético O Homem do Norte, a principal estreia dos cinemas brasileiros desta quinta-feira, 12
Aqui, a trama mergulha na jornada do viking Amleth (Alexander Skarsgård). Nasceu príncipe, filho do rei Aurvandil (Ethan Hawke), mas logo se viu exilado com o assassinato do pai pelas mãos do tio Fjölnir (Claes Bang). A partir daí, respira vingança. Quer matar seu tio a qualquer custo para vingar o pai e salvar a mãe, agora esposa de Fjölnir. É uma típica história shakespeariana, e que o roteiro de Eggers e Sjón (Lamb) enche de cultura nórdica e mitológica.
Assim como O Farol e A Bruxa, O Homem do Norte tem uma direção certeira. Apostando na poesia, o cineasta consegue criar alguns momentos de tirar o fôlego. Um ataque viking à uma vila, filmado todo em um plano-sequência de tirar o fôlego, mostra a habilidade do cineastas. Mas vai além disso: o diretor, apoiado em fotografia e direção de arte competentes, cria uma ambientação que coloca o público dentro da história. E fica a dica: vale a pena ver na telona.
Skarsgård (A Lenda de Tarzan) entrega a melhor atuação de sua carreira, como um Amleth sedento por vingança -- e nada mais. Esse ódio incontrolável ajuda a compor o personagem e a colocar o ator em um nível cada vez mais físico. Paralelamente, destaque para Nicole Kidman (As Horas), com um personagem que apresenta uma força inesperada, e Bang (The Square: A Arte da Discórdia), que fica responsável pelo personagem mais complicado de toda a trama.
O grande problema de O Homem do Norte, e que não tinha sido visto até então em nenhum outro trabalho de Eggers, é a falta de uma profundidade. A mitologia, que move e se torna o objetivo final de A Bruxa e O Farol, aqui é apenas perfumaria. É essencialmente uma trama de vingança, com esse ar shakespeariano, e que não vai além disso. É um homem querendo vingar o seu pai. Ponto. Essencialmente, Eggers não encontra espaço para se aprofundar em assuntos latentes.
O papel da mulher, por exemplo, apresenta um olhar até então inédito em histórias vikings, colocando personagens femininas em papéis centrais -- não só Kidman, como também a rebelde personagem de Anya Taylor-Joy (Fragmentado). Por que não ir além nessa questão do papel feminino, que até ganha certa atenção em alguns diálogos, mas nunca encontra o ponto da coisa? Faltou profundidade. É um filme, então, que fica apenas na superfície da vingança.
O Homem do Norte, assim, é um filme bonito visualmente, com boas atuações, e que proporciona um verdadeiro mergulho na mitologia nórdica. No entanto, claramente é um Eggers de estúdio, não independente -- vale lembrar que O Homem do Norte é da Universal Pictures, enquanto os outros são da A24. Falta significado, força na história e símbolos que foram vistos com mais coesão em outros longas do diretor. Ainda assim, pela poesia, vale o ingresso.
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