É curioso observar os caminhos da carreira de Russell Crowe. Nos anos 2000, ele entrou em uma A-list de Hollywood, com sucessos na bagagem como Uma Mente Brilhante, Los Angeles: Cidade Proibida, O Informante, Mestre dos Mares e Gladiador -- filmes até hoje aclamados. Mas, depois, sua carreira passou por altos e baixos, indo de filmes como Thor: Amor e Trovão até o divertido Dois Caras Legais. Agora, Crowe ganha um novo capítulo com O Exorcista do Papa.
Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 6 de abril, o longa-metragem conta a história de Gabriele Amorth (Crowe), o padre que era considerado a maior referência de exorcismo do mundo -- e que se tornou uma peça central do Vaticano durante muitos anos. Nos tempos em que o filme se passa, na década de 1980, porém, as coisas estão mudando: o exorcismo passa a cair em descrédito e Amorth conta com a desconfiança de muitos bispos. Parece um novo tempo.
No entanto, quando uma família americana se vê vítima de um demônio poderoso, que se apossa do corpo do filho mais novo (Peter DeSouza-Feighoney), Amorth é convocado. A partir daí, os espectadores entram na tradicional história de exorcistas versus demônios poderosos.
Não há nada de novo, assim, no que é contado aqui -- como falamos na ocasião do lançamento do tenebroso 13 Exorcismos. O Exorcista do Papa, mesmo tentando às vezes mostrar a Igreja como uma vilã nessa história, continua sendo um panfleto religioso. Bem vs mal, igreja vs demônio, expiação vs condenação. É uma dinâmica polarizada muito fácil de ser conduzida e que acaba recaindo em maneirismos que surgem, interminavelmente, nos filmes do gênero.
O que muda aqui, essencialmente, é a figura do exorcista. Geralmente são personagens sérios, seguindo o caminho inicialmente trilhado por Max von Sydow como Padre Merrin em O Exorcista. Em O Exorcista do Papa, porém, a coisa muda de figura: o Amorth de Russell Crowe está mais para um tipo boêmio e contestador (daí a Igreja como vilã), que não liga muito para as regras. Felizmente, é o estilo que se aproxima dos relatos de como era o padre no dia a dia.
Ver esse padre desvirtuado, bem diferente do usual, dá um refresco e a primeira hora do filme funciona justamente por isso -- e é evidente como o astro está se divertindo na tela, fazendo seu primeiro longa-metragem de horror. Ele não leva a sério várias das situações e consegue fazer o tempo passar agradavelmente. Obviamente, enquanto isso, o terror acaba um pouco prejudicado. Mais de uma vez ri com situações do que me assustei. Não é um bom sinal, afinal.
Tudo vai por água abaixo, porém, nos 30 minutos finais. O filme começa repentinamente a se levar a sério demais, sem sentido pra ser -- tem até um demônio ao melhor estilo Dario Argento que não faz sentido algum. Fica bem parecido com aqueles finais descompensados de Invocação do Mal, que nem quer saber de assustar ou dramatizar, apenas criar um espetáculo com demônios e aberrações. Fica fraco. Mas, quem sabe, dá para se divertir com a sessão do filme.
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