Ben Stiller parece que está cansado de comédias. Nos últimos anos, sua filmografia deixou de estampar filmes como Entrando Numa Fria e Uma Noite no Museu e passou a ter títulos como os excelentes A Vida Secreta de Walter Mitty, Enquanto Somos Jovens e, mais recentemente, Os Meyerowitz. Agora, um novo filme entra nessa lista para tentar mostrar o lado mais humano de Stiller: o drama O Estado das Coisas, que chega aos cinemas do País nesta quinta-feira, 26.
No centro da história, o quarentão Brad (Stiller) e seu filho, o pré-universitário Troy (vivido pelo péssimo Austin Abrams). Os dois resolvem fazer uma viagem para que o garoto veja e conheça algumas das principais universidades dos Estados Unidos. Nesse meio tempo, em que conhecem possibilidades estudantis, pai e filho se reconectam enquanto Brad enfrenta uma grave crise de meia-idade, fazendo com que ele ache todos os seus amigos são mais bem-sucedidos que ele.
A partir dessa premissa, o diretor Mike White (da série Enlightened) cria um filme ao redor de um monólogo. Ainda que O Estado das Coisas tenha personagens secundários e uma premissa que parece bem mais ampla, sua essência é um eterno monólogo interno do personagem de Brad, que tenta descobrir seu papel na sociedade -- hora enfrentando seus demônios do passado, hora pensando em como seria sua vida se tivesse tomado decisões diferentes.
Assim, o filme é oito ou oitenta. Muitos espectadores podem embarcar na ideia e se divertir com os dramas pessoais da personagem de Stiller -- que, mesmo fazendo um papel bem mais sério, causa humor em algumas situações. Afinal, alguns espectadores podem se identificar ou, ainda, identificar outras pessoas naquela situação. O resultado, nesses casos, será interessante. Enquanto isso, outras pessoas podem achar a trama realmente insossa e sem sal.
E essa segunda opinião também é totalmente compreensível. Afinal, o filme é baseado só na mente de Brad -- uma premissa, aliás, que ressoa no ótimo e recente filme A Vida em Espera, com Bryan Cranston. Muitos podem se chatear e achar a premissa desinteressante. Outro motivo que pode tornar a experiência de O Estado das Coisas desgastante é com o elenco de apoio risível: Simon Pegg aparece muito pouco e Austin Abrams (Cidades de Papel) está péssimo. Tem a mesma expressão pra tudo.
No entanto, vale ressaltar que Stiller está bem em seu papel. Nada estrondoso, mas que agrada e mostra que ele consegue, sim, fazer papéis dramáticos. O roteiro também é bem feito e tem amarração interessante, permitindo participação do público na interpretação. Além disso, o filme tem bons aspectos técnicos: a fotografia um pouco desbotada passa para a tela o cansaço dos seus personagens e a trilha sonora, baseada em violinos, casa bem com a trama em geral.
No final, O Estado das Coisas é um filme ok. Pode agradar -- e muito -- espectadores que se identificam com a situação, enquanto pode desagradar quem não tem interesse no assunto. Afinal, não há outros atrativos que façam o ingresso valer a pena para o segundo tipo de público. Ainda assim, porém, o longa-metragem é mais um tijolo no novo caminho que Stiller quer trilhar. E, pelos últimos resultados, é um caminho que está se mostrando muito positivo. Vamos acompanhar.
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