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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘O Espião’ é emocionante e importante documentário sobre velhice e solidão


O documentário O Espião começa de um jeito diferente, até mesmo um pouco esquisito. Logo nas primeiras cenas, a diretora Maite Alberdi (do também ótimo Tea Time) mostra a jornada de um detetive particular em encontrar um espião. Mais: um espião idoso. Afinal, uma cliente quer detalhes de como a mão está sendo tratada na casa de repouso.


É um começo digno de filmes americanos sobre velhice. Consigo ver tranquilamente Alan Arkin, Michael Caine ou até Morgan Freeman interpretando Sérgio, o espião selecionado para passar três meses infiltrado no tal asilo. Até mesmo o estilo de filmagem de Alberdi, mais artificial, acaba trazendo esse ar de filme de ficção. É um caminho inicial estranho.


No entanto, rapidamente, O Espião dá uma guinada. A partir do momento que Sérgio chega na casa de repouso e começa a fazer amizades, o tom do documentário muda. Ainda que ele continue a cumprir sua missão de informar o estado de saúde da mãe da cliente, seu foco é outro. Ele cria vínculos, estreita relações, entende a dor daqueles idosos esquecidos.

Sim, esquecidos. Afinal, como é rotina em asilos, sejam eles particulares ou públicos, há um número imenso de velhinhos que não são lembrados por suas famílias. São colocados ali, à mercê do tempo e da solidão. Sérgio, mais do que tentar encontrar algum tipo de maus tratos, encontra o desamparo e o esquecimento familiar como o principal mal daquele local.


Dessa forma, conforme o filme vai avançando para o final, vai ganhando mais camadas, mais emoção. Alberdi, ainda que em alguns momentos nos faça questionar os limites éticos desse tipo de filmagem, sabe imprimir sensibilidade. Coloca os idosos como humanos, não como pessoas sendo observadas em um zoológico ou coisa do tipo. Há humanidade aqui.


Por fim, o filme passa uma mensagem de maneira natural enquanto também emociona. Encontra o tom necessário, sabe focar nos personagens mais potentes e ressalta a importância de olharmos para esses personagens que passam quase invisíveis no dia a dia das vidas. Emocionante, delicado, sensível, potente. O melhor do É Tudo Verdade 2020 até agora.

 
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