Já falei mais de uma vez aqui como filmes de exorcistas sempre batem na mesma (e ultrapassada tecla) de bem versus mal, religião versus demônio e por aí vai. É uma conversa bipartidarizada e que parece nunca encontrar outra solução senão padres e demologistas. Por isso O Diabo no Tribunal, estreia da Netflix desta quarta-feira, 17, poderia ser um documentário realmente bom, quebrando mitos e ideias. No entanto, o filme perde sua grande oportunidade.
Dirigido por Chris Holt, que também assina o roteiro, o longa-metragem tem um foco específico: falar sobre um caso emblemático da carreira de Ed e Lorraine Warren. Mais especificamente, sobre o rapaz que se viu possuído, matou o amigo e depois alegou que não lembrava de nada.
Curto, com pouco mais de 1h20, o documentário começa apresentando todos os envolvidos. O primeiro garotinho possuído, seus irmãos, fitas de gravaram tudo o que aconteceu e, é claro, esse cunhado que também foi possuído e matou um "amigo". Tudo é muito estranho, encaixa como uma luva. Será que o documentário terá coragem de contestar tudo que foi contado?
Sim, essa contestação chega. Mas tarde demais. É apenas nos últimos 10 ou 15 minutos que Holt, depois de passar o filme inteiro apresentando as evidências do caso exaustivamente, fala sobre as suspeitas que existem de que tudo não passava de uma grande confusão, aproveitada de maneira oportunista por Ed, Lorraine e outros. É justamente quando o filme ganha impulso, que atrai nossa atenção e... nos minutos seguintes, deixa isso de lado de novo e termina por ali.
É frustrante. Ao invés de questionar as bases do exorcismos e, principalmente, do mito que foi criado ao redor de Ed e Lorraine Warren, o filme parece que fica com medo de ir para os finalmentes. Para na metade, cortando a conversa. Fica a sensação de que gastou muito tempo com o que todo mundo já sabe e, quando precisava mostrar as caras, resolveu sair correndo.
Faltou ousadia para Holt perceber que sua história não era sobre a possessão demoníaca ou o julgamento no tribunal, mas sim sobre as dúvidas que pairam sobre o caso e como o exorcismo pode ser, na verdade, uma forma de aproveitadores usurparem. O filme, pena, ficou no caminho.