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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Diabo Branco' é interessante filme argentino de horror


Apesar de José Mojica Marins ter pavimentado o caminho para o terror latino, apenas agora estamos vendo desdobramentos mais concretos do gênero no Brasil, Argentina, México e outros países da região. Por aqui, nomes como Gabriela Amaral Almeida, Juliana Rojas, Marco Dutra e Rodrigo Aragão estão mostrando a força do terror latino. Agora, a Argentina começa a aparecer.


Em O Diabo Branco, o cineasta argentino estreante em longas de ficção Ignacio Rogers brinca com os clichês do gênero para contar a história de um grupo de amigos que, numa viagem pelo interior do país, acaba entrando no alvo de uma entidade maligna que mata as pessoas por ali. É um filme de sobrevivência, em que essa assombração promete não deixar uma alma viva.


A partir daí, Ignacio invoca os signos do cinema slasher, sem deixar pitadas do folclore de fora. Elas entram na trama desse fantasma, que vai sendo envolvido em uma mitologia ao seu redor.

O cineasta desenvolve bem a tensão ao longo de menos de 90 minutos, acertando na forma de fazer o medo atravessa a tela. Há momentos realmente tensos e ele sabe cozinhar o medo -- fazia tempo que não sentia essa tensão crescente, em que o medo é mais sugestivo e da nossa cabeça do que visual. Ainda assim, porém, o gore e a violência explícita fazem parte do longa.


Uma pena, porém, que Ignacio perca muitas oportunidades. Havia espaço para um comentário social potente, mas frequentemente desperdiçado. Claramente não era o objetivo do diretor, que preferiu mergulhar mais na criação de atmosfera do que aprofundar seu roteiro. É um problema parecido com alguns cineastas do gênero no Brasil também, como no cinema de Aragão.


Além disso, os personagens são demasiadamente burros. Tudo bem que evoca os clichês do slasher americano. Mas poderiam ter sido mais desenvolvidos e, principalmente, usados como forma de reverter o clichê nascido nos Estados Unidos. Com isso, o final fica cansativo e o filme se torna um tanto quanto repetitivo. De novo, faltou ousadia no que estava sendo contado.


Mas O Diabo Branco dá medo. Tem uma atmosfera tensa e, sobretudo, a situação criada ali mostra que, mais do que um filme de sobrevivência, estamos observando personagens fadados sem podermos fazer nada. Ignacio, sem dúvidas, tem espaço para crescer no chamado cinema de gênero. Quem sabe, em próximos filmes consiga aproveitar essas brechas da história latina.

 

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