Uma pena que O Debate chegue aos cinemas nesta quinta-feira, 25, já um pouco velho. Dirigido pelo também ator Caio Blat, que faz sua estreia atrás das câmeras, o longa-metragem parece, em uma primeira camada, estar extremamente antenado com nossos tempos atuais. Afinal, no centro da história, um casal de jornalistas (Debora Bloch e Paulo Betti) está no olho do furacão ao ter que decidir como abordar um importante debate presidencial no canal em que trabalham.
Em contraposição, Paula e Marcos -- os tais jornalistas vividos por Bloch e Betti -- também vivem um conflito nos bastidores da vida. O relacionamento está ficando cada vez mais amargo, mais estranho, mais desconfortável. O atrito no trabalho existe também na vida pessoal. A vida imita a arte ou a arte imita a vida? A partir dessa ideia, Blat também traz símbolos que representam Lula e Bolsonaro, sem esconder esses paralelos, dando mais verdade à história.
Só que, como dissemos lá atrás, essa história escrita pelos geniais Jorge Furtado e Guel Arraes não acerta o tom. Primeiramente, O Debate tem um problema que, a meu ver, raras vezes conseguiu ser contornado nos cinemas: é verborrágico demais. Muito blá-blá-blá, muita conversa. Até funciona no começo, quando Paula e Marcos estão tendo alguns bons embates de ideias, mas vai se tornando chato e cansativo. O filme rapidamente se torna petulante. Mala.
No entanto, não é apenas isso que enfraquece O Debate. Ainda que Betti e Bloch se esforcem à beça na tentativa de desenvolver algo minimamente saboroso, com personagens que amplifiquem a necessidade de ser atual, natural e real, o filme não consegue passar a ideia central: ser um embate de ideias de duas pessoas que pensam política de forma diferente. É um olhar ingênuo demais, que acaba jogando ideias que funcionariam há quatro anos, não agora.
O Debate esquece de problemas que vão além de uma conversa entre dois medalhões de classe média, banalizando pontos centrais e transformando em espetáculo algo que não deveria ser espetacularizado. Falta estofo, fazendo com que O Debate nem tenha cara de Furtado e Arraes. Em tempos em que política volta a entrar na pauta, o longa não consegue ser mais interessante ou mais incisivo do que a realidade que bate à porte. Assim, o filme não se sustenta.
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