É difícil encontrar um livro que consiga transformar o significado de uma história apenas na última página. Afinal, não é simples compactar uma transformação total da narrativa em apenas poucas palavras. Mas, surpreendentemente, o bom O Chalé no Fim do Mundo consegue fazer isso. Escrita por Paul Tremblay (Na Escuridão da Mente), a obra acerta ao criar tensão durante suas pouco mais de 240 páginas e ir além no final.
A trama acompanha um dia de tensão na vida da menina Wen, de 7 anos, que se vê numa situação complicada com seus pais Eric e Andrew. Afinal, num dia como em um outro qualquer, um grupo de estranhos carregando armas modificadas chega, repentinamente, no chalé da família. Depois de conversar com a garotinha, eles entram na casa e começam a fazer um pedido. Se não for realizado, será o fim do mundo.
A partir daí, Tremblay cria uma trama tensa, com um pé em slashers, para mostrar essa família tentando escapar das garras desse quarteto sinistro. E os motivos para essa ameaça nunca são explicados. Homofobia? Loucura? Ou será apenas um culto qualquer?
Esse suspense, por vezes, irrita -- as idas e vindas das informações são demasiadas e, em determinado ponto da história, as coisas precisam ser esclarecidas. Vale ressaltar, no entanto, de que a jornada dos personagens é tensa. Algumas sequências são de tirar o fôlego e é interessante ver a forma como os personagens reagem num ambiente tão hostil. A alternação de personagens-narradores ajuda nisso.
Aliás, ainda que Wen seja interessante, é ótima a forma como Tremblay constrói a personalidade de Erik e Andrew. Flashbacks, por mais que pareçam preguiçosos de vez em quando, ajudam a criar camadas e a compreender melhor quem são aqueles dois ali, em posição tão perigosa. O quarteto de invasores, porém, não vai muito além. Só Leonard, o líder do grupo, parece ter um pouco mais de desenvolvimento no livro.
O que eleva a narrativa com intensidade -- e a faz sair de uma obra três estrelas para uma de quatro estrelas -- é o seu final. A raiva com a falta de explicações é transformada, num rompante, numa visão metafórica sobre o que acontece naquele chalé. Não é fácil entrar nos meandros dessa visão figurada sobre a história de Tremblay, mas ela chama a atenção e puxa a atenção para dentro de suas páginas.
No final, O Chalé no Fim do Mundo se torna uma obra "ame ou odeie". Essa transformação final pode ser um rompante tarde demais para alguns. Para outros, como é o meu caso, a impede de ser esquecível. Não é incrível, é fato. Mas Tremblay vai na contra-mão de outros livros do gênero e inova ao trazer novos significados, novos desafios, novas tramas. Vale a leitura. E vale acompanhar a carreira do escritor.
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