Em 2011, no programa CQC, o comediante Rafinha Bastos causou polêmica ao fazer uma piada misógina com a cantora Wanessa Camargo, e isso fez com que, por um bom tempo, se questionasse a respeito do limite do humor. Sete anos depois, ainda não temos uma resposta definitiva. Leandro Hassum menos ainda. Seu mais novo filme, que na verdade é uma continuação do lançado em 2014, consegue não apenas ser ruim, como violar inúmeros limites, que garantem ofender diferentes minorias.
Roberto Santucci, diretor de grandes sucessos como Até que a Sorte Nos Separe e De Pernas pro Ar, se arrisca mais uma vez em falar sobre a política no Brasil de forma bem humorada (admitindo que bom humor se resume em piadas extremamente machistas, racistas e homofóbicas). No longa, Leandro Hassum é João Ernesto, um ex-político que perdeu tudo após contar apenas verdades. João está na cadeia, mas isso não impede com que muitos o queiram como novo presidente do país. Frases como "João, ladrão, roubou meu coração" e "João Livre" aparecem logo no início. Qualquer semelhança com Lula é mera coincidência.
O Candidato Honesto 2 passa tanto dos limites que cheguei a me perguntar se não era uma grande ironia em relação à toda política brasileira e, por consequência, aos seus eleitores. Pode ser que Santucci tenha mirado nisso, mas o que ele acertou está bem longe. O filme começa com uma imitação do Roda Viva, que aqui se chama de Roda Livre, em que o personagem de Hassum é questionado por jornalistas. Em menos de 10 minutos, o espectador já se depara com piadas homofóbicas e uma caricatura do protagonista, empinando a bunda e falando "Ui". Qualquer pessoa meramente razoável já tem aí um indicativo do que vem pela frente. E só piora.
São 104 longos minutos que mais se assemelham à uma sessão de tortura medieval. Leandro Hassum fala palavrões o tempo todo, além de gritar sempre que tem a chance. Frases típicas estão por todo o filme "Isso aqui é Brasil, terra de ninguém", "O país tá uma bosta", além de não perder a oportunidade de ofender os eleitores de Lula, digo, João Ernesto, referindo-se à eles como ignorantes e "maluco que vota sem pensar".
No entanto, não é somente Lula que é representado no filme com outro nome. Aqui, Michel Temer é Ivan Pires e Jair Bolsonaro é Pedro Rebento. O primeiro aparece como um vampiro, o que seria uma boa piada se utilizada com moderação. Ao invés disso, o diretor decide fazer menção ao fato o tempo todo, como se Ivan Pires aparecesse do nada e assustasse João Ernesto, que naturalmente reage gritando algum palavrão. Cansativo, além de sem graça. Já o personagem que se assemelha ao Bolsonaro recebe esse nome porque "Te prendo e te arrebento". Ele é estourado e constantemente fala sobre armas. Faz jus ao candidato.
Muito se escuta que o cinema brasileiro é horrível e não faz produções que valham minimamente a pena. O Candidato Honesto 2 é o filme perfeito para justificar essa mentalidade. Ser ruim, errar alguns aspectos técnicos ou até mesmo não conseguir produzir humor é uma coisa, e totalmente aceitável. O que Roberto Santucci fez aqui é um descaso com o cinema nacional. Honestamente, ainda me pergunto como esse filme conseguiu ser produzido, já que fere toda e qualquer minoria. É surreal, em 2018, ter que se deparar com uma cena em que uma mulher negra aparece e o protagonista fala "Deve ser filha de algum funcionário". Ou utilizar o termo viado como xingamento. Ou falar para uma mulher que a comeria o tempo todo, não perderia tempo.
A história faz sentido com o momento político atual pelo qual estamos passando, mas nada justifica a exibição desse filme. O Candidato Honesto 2 é sem graça, ofensivo e cansativo. Humor tem limite, sim. Mas falta muito para Roberto Santucci e todos que fizeram parte do filme aprenderem isso.
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