
Que filme mais estranho é esse O Bom Professor (Pas des vagues, 2024), título que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 20. Dirigido por Teddy Lussi-Modeste (O Preço do Sucesso), o longa-metragem conta a história de um professor (François Civil) que é acusado de abuso por uma de suas alunas. A sua vida, assim, vira de cabeça para baixo de um dia pro outro.
A grande questão aqui, porém, é que Lussi-Modeste deixa claro, desde o início, que o professor não abusou de ninguém. Tudo não passa de uma conspiração promovida por uma de suas alunas (Mallory Wanecque, a Océane), revoltada por não ser vista por Julien Keller, o tal professor interpretado por Civil, e que decide influenciar outros alunos a coagirem o mestre.
Em pleno 2025, é uma história que causa desconforto e estranhamento. Ao contrário do genial filme A Caça, com Mads Mikkelsen, vemos aqui uma mulher abertamente mentindo, manipulando, coagindo -- no longa dinamarquês, para comparação, há uma acusação feita de forma ingênua, nunca com fins de manipulação, e que acaba gerando todo o caos do longa.
Nesse contexto de manipulação, O Bom Professor teria espaço para discussões morais e éticas poderosas, como embate de narrativas, a forma de se abordar a relação professor x aluno, como a escola deve se comportar (ou não) e por aí vai. No entanto, Lussi-Modeste para ficar feliz em fazer o básico, relatando esse embate na tela e nunca encontrando estofo para mais.
Além disso, há um problema de temporalidade: o filme é baseado numa história real que parece ter acontecido há pelo menos uma década -- quando comportamentos e ideias eram diferentes, obviamente ainda mais conservadores. No entanto, o filme nunca é localizado temporalmente, deixando a impressão de que se passa no agora. Com essa decisão, é estranho ver personagens desconfortáveis com a sexualidade do professor ou usando isso como carta contra o assédio.
Fica um desconjuntado de ideias e de comportamentos, quase sempre erráticos. O Bom Professor soa ultrapassado, o que é seu maior defeito, além de perder boas oportunidades de aprofundar o debate. François Civil, queridinho do cinema francês, é a melhor coisa do filme: encarna bem as dores do personagem e convence. Mas só isso não salva a história.


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