Outro dia mesmo, o Esquina publicou uma crítica sobre o filme Acrimônia. Nela, destacamos como um final ruim pode estragar todo um bom desenvolvimento de roteiro e de personagens. O Aviso, novo original espanhol da Netflix, vai pelo mesmo caminho: ainda que a trama seja repleta de erros e furos, ela tem uma história tensa, angustiante e original. No entanto, a conclusão encontrada pelos roteiristas coloca tudo a perder.
O filme, dirigido por Daniel Calparsoro (do mediano Cem Anos de Perdão), se passa em duas linhas temporais. Em uma delas, um homem (Raúl Arévalo) vai com o amigo no mercadinho de um posto de gasolina para comprar gelo. Um assalto se desenrola no local e o tal do amigo é baleado gravemente. A partir daí, o homem sobrevivente nota um aparente e estranho padrão temporal de assassinatos que acontecem no mesmo lugar.
Do outro lado, dez anos depois do assalto, um garotinho (Hugo Arbues) sofre com um pesado bullying na sua escola. E ainda por cima, seu drama é acompanhado de uma estranha e perturbadora carta, encontrada no meio de uma revista que compra no mesmo mercadinho do posto, que o alerta para passar longe do local no dia do seu aniversário. Se for lá, as chances de ser morto são grandes. E agora, o que fazer?
A partir dessas duas histórias, os roteiristas Chris Sparling e Patxi Amezcua criam uma trama vazia, mas que instiga, desperta e eletrifica o espectador. Afinal, não há muito há ser contado em cada um dos lados. O homem fica ao lado da cama do convalescente amigo enquanto tenta decifrar a tal série numérica de assassinatos. Do lado do menino, há o problema de bullying, mas nada que tenha peso, de fato, à trama do filme.
O que carrega o longa é a originalidade na história, que tenta levar um evento aparentemente banal para a racionalidade matemática. A espera de que uma grande e surpreendente reviravolta chegue na tela -- como é de praxe em filmes espanhóis recentes, como El Cuerpo e Um Contratempo -- também se torna um motor que ativa a curiosidade, fazendo com que se torne difícil a tarefa de abandonar a história no meio.
Poucos aparatos técnicos surpreendem ou merecem destaque. A direção de Calparsoro é burocrática e sem grandes méritos. Raúl Arévalo (Os Amantes Passageiros) até tenta dar densidade ao seu personagem, mas não há muito material para fazê-lo. Hugo Arbues (Hierro), coitado, está perdido. Só Aura Garrido (El Cuerpo) chama a atenção.
O que faz com que todo o filme desabe, enfim, é o final. A única possibilidade de redenção de O Aviso mostra ser uma conclusão preguiçosa, forçada e sem muita inventividade narrativa. Um acontecimento quase paranormal tira todo grude à realidade que tinha sido apresentado até então, fazendo com que o espectador saia do filme com um gosto amargo na boca. Difícil comprar aquele final e, ainda mais, de que o roteiro levou 1h30 para aquilo. Afinal, é realidade ou fantasia? Matemática ou história?
O Aviso é um filme que causa curiosidade e interesse por conta de sua trama original, fazendo com que o espectador tente decifrar, a todo momento, como o roteiro vai conseguir amarrar aquilo tudo numa conclusão satisfatória. Quando isso não chega, é impossível não se desagradar. Filme preguiçoso, que só tenta surfar na boa onda do cinema espanhol de suspense.
É colaborador do Estado de S. Paulo e fez uma análise tão sem nexo desse jeito? O Aviso é um filme de suspense psicológico, então, é claro que ocorrerão fatos sobrenaturais. Há uma racionalidade matemática, tudo bem, mas o gênero da película faz-se necessário que tenham alguns fatos sobrenaturais. Além disso, o fato do garoto sofrer bullying tem grande destaque na trama e o autor dessa página tem a coragem de falar que não há nenhum peso para o filme? A carta por algum tempo foi até ligado aos que faziam bullying, isso não é peso? Lamentável que a resenha crítica feita esteja tão mal feita!