Carlitos (Lorenzo Ferro) é um adolescente que faz sucesso com seus cabelos loiros, encaracolados, e o jeito de galã. O que a maioria das pessoas não sabe, porém, é que ele é um habilidoso ladrão e assassino. Sem medo do perigo, e pouco preocupado com o futuro, ele sai por aí fazendo o que bem entende. As coisas pioram ainda mais ao conhecer Ramon (Chino Darín), um rapaz vindo de uma família disfuncional que cria um estranho vínculo com o adolescente. É paixão? É parceria de crime? É só amizade?
Esta é a trama do insosso O Anjo, novo longa-metragem do argentino Luis Ortega (Lulu) e produzido por Pedro Almodóvar (A Pele que Habito). Durante suas quase 2 horas, é difícil decifrar os motivos que fizeram com que este filme fosse o escolhido pra representar a Argentina no Oscar de 2019. Talvez por conta das credenciais de seus produtores. Talvez pela boa atuação do estreante Lorenzo Ferro, que carrega o filme todo nas costas. É um longa apenas mediano. Talvez regular. Nada muito além disso.
Afinal, veja só. A trama de O Anjo é banal. Contar a história de um serial-killer, saindo do gênero policial, não é novidade. Psicopata Americano já fez isso. Laranja Mecânica, mesma coisa. Mais recentemente, Lars Von Trier elevou a barra da crueldade com A Casa que Jack Construiu. É preciso ter algo a mais. Reverter a narrativa para só contar a trama de um maluco assassino não é o bastante. E aqui, o tempero de Luis Ortega também não é nada demais. Uma estética refinada apoiada numa boa trilha e fotografia.
O filme, de fato, impressiona por esses atributos. A recriação da época em que Carlitos atuava é interessante, bem feita. A fotografia traz uma plasticidade que potencializa o mergulho na década de 1970 e 1980. Não dá pra reclamar do figurino, da trilha sonora -- que faz uma boa cena, em especial, com La Casa del Sol Naciente. É, sem dúvidas, algo muito bem produzido. Claro, senão não teria o selo de Almodóvar. Mas fica só nisso.
A trama não é interessante, o personagem é chatérrimo. Não há envolvimento com nada. Não dá pra torcer pelo protagonista, afinal ele é um serial killer. E não tem mais ninguém para criar laços. O personagem, assim como o filme todo, só tem beleza, mas não conteúdo -- será que o filme, então, seria uma emancipação do que é o protagonista? Se é, brincadeira narrativa muito forte e prejudicial. Poderia ser feita de outro modo. Dessa maneira, ficou apenas um filme vazio bonito e com uma boa atuação.
O resto do elenco, fora Ferro, também não vai muito bem. Chino Darín de novo decepciona. Será que Uma Noite de 12 Anos foi só um golpe de sorte? Afinal, ele está apenas mediano em Durante a Tormenta e, aqui, também não passa emoção alguma.
Luis Ortega, como já ressaltado, sabe mesclar o bom visual com o roteiro seu e do estreante Sergio Olguín. Mas há muita pretensão no que é apresentado em cena. Parece que Ortega quer criar a balada do homem comum, personificada na figura do garoto criminoso, de um jeito esteticamente agradável, num envelopamento pop. Fica a dúvida, porém, de até quanto isso é interessante e aceitável. Não é legal banalizar criminosos.
Dessa forma, O Anjo é um filme chato, arrastado e que tenta vencer pelo visual. Muitos podem acabar caindo nessa ladainha e achar que o filme é incrível. Sem dúvidas, dá vontade de ver mais da estética da história. É agradável aos olhos. É interessante ver o menino atuando também, quase sem amarras e com uma naturalidade desconcertante. Mas só isso não basta. Falta muito conteúdo para que este filme chegue aos pés de outras coisas que o cinema argentino já contribuiu na sétima arte. Cadê os bons filmes?
* Filme assistido durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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