Foi em junho deste ano que a imprensa revelou um dos casos mais escabrosos do judiciário nos últimos anos: uma juíza negou o direito (repito, DIREITO) de uma garota de 11 anos realizar um aborto após ser estuprada. A prendeu, a fez ficar gerando aquele feto que não lhe pertencia até que, aos sete meses, ela pode fazer o procedimento -- momento ruim, aliás, para absolutamente todos os envolvidos. Por isso é ainda mais chocante assistir a um filme como O Acontecimento.
Estreia desta quinta-feira, 7, o longa-metragem conta a história de Anne (Anamaria Vartolomei), uma garota grávida e que simplesmente não quer e não pode ter aquela criança. No entanto, na França dos anos 1960, o direito ao aborto ainda não existia. Pelo contrário: qualquer um que praticasse o aborto, seria preso. O médico e a mãe. Por isso, ao longo de desesperadores e tensos 100 minutos, acompanhamos essa mulher fazendo de tudo para tentar parar a gravidez.
Dirigido por Audrey Diwan, que assina também o roteiro ao lado de Marcia Romano, o filme vai se aprofundando na história dessa jovem. Ao seu redor, tudo conspira contra ela. O preparatório para a faculdade está exigindo muito de sua atenção, mas ela não consegue se dedicar como deve. A família cobra. As amigas, enquanto isso, vivem nas sombras -- Anne, apesar da proximidade, não sabe como elas reagiriam. Com tudo isso, ela fica sozinha, isolada, na bolha.
O Acontecimento, assim, não poupa Anne, tampouco os espectadores. Tudo vai se desenrolando com crueldade, totalmente calcada no realismo dessa situação, com personagens mostrando bem o limite em que estão vivendo. Anamaria Vartolomei, apesar de pouco experiente, consegue segurar o papel: ela traz verdade com sua jornada que parece viver numa nota só, bem baixa e com muitos problemas no caminho. Sua jornada é dura, nem um pouco fácil. E ela mostra isso.
Algumas cenas são realmente difíceis de assistir. Uma na metade do filme, com Anne tentando fazer o aborto por si só, é desesperadora. A vontade é virar o rosto e não assistir. No entanto, não tem como virar a cara para a realidade: o que Anne passa no filme é o que milhares de mulheres passam ainda hoje, 60 anos depois do que foi contado ali. É intragável como essa violência contra a mulher persiste. Afinal, não é porque o aborto é ilegal que ele não acontece.
O único porém fica para o ritmo do filme. Ainda que faça parte da estratégia narrativa e o roteiro esteja amarrado ao texto-base, de Annie Ernaux, há muita repetição na história. Parece que as coisas não avançam na velocidade que deveriam. Com isso, O Acontecimento poderia ser muito mais enxuto. Ainda assim, isso não tira o mérito de que o filme é um dos mais chocantes de 2022 -- quiçá, o mais perturbador. Não é fácil ver esse filme nos tempos que vivemos no Brasil.
Filme é interessante, tanto para aquele contexto 1960, França, como hoje no contexto reacionário e anti-empatia que passa no Brasil bolsopata. Concordo que o roteiro deveria ser mais enxuto, mas o filme é bom para esclarecer e humanizar a situação, principalmente para os 'desumanizados' ou carregado de hipocricia e cinismo do tal movimento pró-vida. Detalhes: 1)a escritora do livro que deu base a este filme, passou por esta situação real; 2) A escritora Annie Ernaux, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura/2022, por seu estilo criativo de narrar histórias e coragem sobretudo literária.
Ridículo tudo que vc escreve.
A menina não foi estuprada,ela mantinha um relacionamento amoroso com o meio irmão com o consentimento da própria mãe. Então, você está divulgando uma notícia FALSA. Como não houve estupro,não há lagalidade jurídica para abortar! A juíza não a prendeu,a juíza simplesmente a retirou do convívio dessa família sem ordem,que por negligência a deixou nessa situação. Se alguém tem culpa de alguma coisa é a mãe da menina que não cuidou dela. E outra coisa,vc se refere ao bebê de forma pejorativa! É sim uma vida. E mais valiosa que a sua,que vem até um veículo público disseminar mentira e apoiar a morte de inocentes.
Deveria ter vergonha de disseminar tanta fake news