Confesso que fui assistir a Nyad, longa-metragem que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 19, e que estreia na Netflix em 3 de novembro, com os dois pés atrás. Afinal, para mim, que tinha visto apenas alguns comentários breves sobre o filme e os materiais de divulgação, enxergava o novo longa-metragem como mais um filme de superação por meio do esporte, como Rocky, Um Sonho Possível, A Grande Escolha e por aí vai. No entanto, apesar de ainda estar mergulhado em fórmulas, Nyad conta com algo que muitos filmes convencionais não possuem: emoção genuína.
Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, dupla que ficou conhecida pelo trabalho no documentário oscarizado Free Solo, o longa-metragem conta a história real de Diana Nyad (Annette Bening), uma mulher já na casa dos 60 anos que decide realizar um feito que não conseguiu quando era mais jovem: atravessar o mar que separa Cuba da Flórida a nado. É algo considerado improvável (pra não dizer impossível) por muitos, ainda mais na idade de Diana.
Obviamente, como em todo filme de esporte por superação, Nyad também conta com um elenco de apoio para formar essa equipe de Diana. Tem a treinadora Bonnie (Jodie Foster), o especialista em navegação John (Rhys Ifans), a timoneira Dee (Karly Rothenberg) e por aí vai. São eles, principalmente Foster e Ifans, que dão a sustentação para a emoção surgir na tela.
Obviamente, já a partir dessa breve descrição, é possível perceber que o roteiro da jovem Julia Cox, estreante em longas, segue todas as cartilhas mais convencionais do gênero. Há o desafio inicial de que aquela pessoa não vai conseguir, tentativas fracassadas, uma equipe de apoio, um ou outro personagem absolutamente disfuncional -- aqui, na figura de John. A gente logo reconhece tudo isso e fica mergulhado nas possibilidades, mesmo limitadas, desse subgênero.
Apesar desses padrões, porém, Nyad consegue escapar da mesmice de sempre e emocionar. Pra começar, o esporte de Nyad é bem mais complexo do que boxe ou futebol americano -- ela nada por horas e mais horas a fio no mar aberto, com pouquíssima proteção, e nenhuma parada. É um esporte extremo, que conversa bastante com o que vemos em Free Solo. Diana está mais à mercê do que em outros esportes. A qualquer momento, em qualquer erro, ela pode morrer.
As coisas ficam bem mais emocionantes e intensas -- confesso que fiquei tenso em todas as tentativas da personagem, curioso sobre o que poderia dar de errado. Algo raro nesse gênero.
Além disso, é preciso destacar a atuação de Benning. Ainda que se fale muito de uma possível indicação para Foster, ela não chega nem perto do que a colega de cena entrega aqui. A atriz norte-americana, conhecida por seus papéis principalmente em Beleza Americana e Mulheres do Século 20, se entrega: não só nas cenas em que está nadando, praticando o esporte, mas na forma como vê o mundo. É uma criação bastante particular, que eleva Benning à outro patamar.
O filme derrapa em algumas decisões equivocadas de roteiro, principalmente no final quando parte para um papo de coach -- apesar da boa mensagem contra o etarismo -- e flashbacks que não terminam nunca. Isso tudo causa certo cansaço, desconforto, por sentir que a história não é essa. Ainda assim, Nyad é uma agradável surpresa, que, apesar de trazer todos os clichês desse subgênero de esportes e superação, ainda assim arranja um espaço pra emocionar. Vale assistir.
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