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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Nos Vemos no Paraíso' é encantador, mas cansativo


Difícil não se encantar com a produção por trás de Nos Vemos no Paraíso, filme comandando por Albert Dupontel e que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 5. Com ares oníricos de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, o longa-metragem chama a atenção pela história-fábula e pela grandiosidade que move a trama. Mas a extensão exagerada do filme e o desenvolvimento em círculos tira a possibilidade da obra ser grandiosa.

Nos Vemos no Paraíso começa no meio da Primeira Guerra Mundial, enquanto os países esperam uma definição durante o armistício. Um coronel francês sádico, porém, resolve atacar os alemães, criando um conflito sem dimensões. Nisso, o soldado Albert Maillard (Albert Dupontel) é salvo por Édouard Péricourt (Nahuel Pérez Biscayart), que se põe à frente de uma bomba. O que resulta disso é o rosto desfigurado de Péricourt e uma forte amizade.

A trama, assim, se desenvolve a partir dessa relação entre os dois e o desejo de seguir em frente. Péricourt, desfigurado, não quer mais relações com sua família -- principalmente com o pai, que o maltratava. Seu objetivo, então, é ser artista e ganhar dinheiro nem sempre de forma honesta. Maillard, por outro lado, dá todo o suporte possível ao ex-combatente, se permitindo até roubar morfina de deficientes físicos na rua.

Dupontel, que já brilhou em interpretações em filmes como Irreversível e A Grande Noite, entrega uma direção concisa, onírica e quase épica, tentando abarcar uma história de uma personagem como sendo tipicamente francesa. É um trabalho diferente de outros filmes dirigidos por ele, que até então tinha se dedicado ao humor escrachado -- como nos medianos Uma Juíza sem Juízo e O Filho da Mãe. Há um claro avanço técnico.

Nos Vemos no Paraíso, afinal, tem elementos da comédia, alguns involuntários, outros repetitivos, mas que funcionam no geral e ajudam a compôr o ambiente do longa-metragem. O grande acerto aqui, porém, é a grandiosidade que Dupontel não tem medo de colocar na história. Lembrando um pouco o estilo narrativo de García Márquez -- guardadas as proporções --, ele mostra a trajetória de seus personagens de maneira elegante e épica.

Os atores, aliás, ajudam nesse processo. Dupontel volta a se sair bem como um tipo que não se decide e parece não ter opinião própria. Os momentos de confusão de Albert parecem genuínos em tela e causam divertimento. Nahuel Pérez Biscayart volta a repetir uma boa atuação após o sucesso absoluto em 120 batimentos por minutos. Que ator! Promessa de uma nova geração e que deve entregar muitos outros ótimos trabalhos.

Só que nem tudo são flores em Nos Vemos no Paraíso, ainda que os acertos em elenco, direção e produção artística saltem aos olhos. O roteiro, escrito pelo próprio Dupontel, se alonga mais do que deveria. Ainda que o filme não ultrapasse a barreira das duas horas, não há dinâmicas e arcos interessantes que levem a atenção do espectador por 117 minutos. Falta definição de ritmo, objetivo e foco, que se perdem na segunda metade.

Com isso, por mais bela que seja a produção e melhor que seja contada a história, Nos Vemos no Paraíso se atropela em seus desejos. A vontade é maior do que a verdadeira realização. Ainda assim é um belo filme, um dos melhores exemplos do que é cinema francês. Bem contado, boa produção, boas histórias. Mas falta muito para ser um filmaço como Amélie Poulain e afins. Deve ser visto, mas com parcimônia na celebração de seu futuro.

 

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