Que filme mais bonito é esse Nomadland, novo longa-metragem da cineasta Chloé Zhao (de Domando o Destino). Um dos favoritos para o Oscar de 2021, a produção acompanha a jornada de Fern (Frances McDormand, impecável), uma mulher solitária que decide vender tudo para morar em uma van e, assim, rodar os Estados Unidos. Liberdade e solidão em um só gesto.
A partir daí, entramos num típico road movie nesse dia a dia de Fern. Vemos não só a dor e a jornada própria da protagonista, como também mergulhamos nos contatos e nas amizades que ela vai travando ao longo do caminho. Zhao, interessada em falar sobre humanidade, mergulha também nas dores vizinhas, nas histórias dos outros. Fern é uma facilitadora desse contato.
Como já dito, McDormand está impecável -- ainda que seu papel oscarizado em Três Anúncios para um Crime seja um tiquinho mais desafiador. Ela, a partir de olhares, gestos e silêncios, mostra com crueza a realidade dessas pessoas sem casa, vagando nos Estados Unidos tão pouco convidativo, dos interiores áridos. Essa aridez se contrasta à vida dos personagens.
Assim, nessa dicotomia, também mergulhamos em dois caminhos possíveis para o mergulho em Nomadland. Ou melhor, três. De um lado, há toda a beleza dessa liberdade quase inconsequente de Fern, que não tem amarras e vive livre. Por outro, há o processo de luto que ela enfrenta e a dificuldade em criar raízes após perdas — tanto o marido, quanto o emprego.
Por fim, há o bom caminho de misturar essas duas sensações e impressões. Quem seguir por aí, sem dúvidas vai encontrar um filme triste, mas belo. Forte, mas poético. Profundo, mas simples. E que deve arrancar alguma boa reflexão ao final, ainda que algumas das histórias e processos pareçam repetidos ou já vistos por aí, muito por conta do tom quase documental do longa.
Zhao, afinal, escapa de usar apenas atores iniciantes, como visto em Domando o Destino. Aqui, ela usa McDormand e o também excelente David Strathairn para transitar em histórias e personagens reais. As barreiras entre ficção e realidade ficam mais borradas, mais difíceis de identificar. E, com isso, Nomadland atinge um outro nível de força e de dramatização.
Não há dúvidas de que este longa-metragem de Chloé Zhao é um dos melhores de 2021 e, sem dúvidas, merece atenção no Oscar 2021. Apesar da repetição exagerada da história em alguns momentos, o tom é certeiro, eficaz, provocativo. Questionamos pontos sociais, políticos, econômicos. E, apesar de ser uma história típica dos EUA, conseguimos mergulhar nessa trama.
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