O cinema italiano tem uma magia própria, muito particular. Apesar de ter uma produção instável, e que lembra muito a brasileira, a Itália marcou época com títulos como La Dolce Vita, Oito e Meio, Ladrões de Bicicleta. Por isso, é natural que volta e meia surja algum filme tentando homenagear essa história. É o caso do belíssimo A Grande Beleza, do insosso Em Busca de Fellini e, agora, do novo Noite Mágica, do cineasta Paolo Virzi.
O filme, que mistura suspense com comédia, conta a história de um trio de jovens roteiristas, nos anos 1990, que se vê em meio ao glamour do cinema italiano -- que já começa o processo de decadência, porém. Mas a felicidade dura pouco. Afinal, um famoso produtor é assassinado e seu carro é encontrado no fundo de um lago. Rapidamente, a suspeita acaba recaindo no tal trio. Será que eles o mataram? Como?
A partir daí, Virzi (Ella e John) se vale da nostalgia dos tempos de ouro do cinema italiano para tecer essa história repleta de altos e baixos -- e, infelizmente, com mais baixos do que altos. Afinal, Noite Mágica junta o pior dos dois mundos de A Grande Beleza e Em Busca de Fellini, citados no começo deste texto: o excesso de personagens chatos do primeiro e a ausência de emoção do segundo. Nada flui, nada é empático.
O tal trio de roteiristas é chatíssimo. Seus dramas humanos não são interessantes e a maioria das histórias que os envolvem são chatas. Além disso, os atores principais (Mauro Lamantia, Giovanni Toscano e Irene Vetere) investem em interpretações histriônicas, que beiram o cartunesco. Afastam ainda mais o público de seus personagens, já naturalmente distantes por conta do roteiro escrito a seis mãos.
O que salva alguns pontos é a ambientação de Virzi, que consegue construir cenários que transpiram cinema italiano. A cor dourada que banha a maioria das cenas é emblemática e alguns dos personagens coadjuvantes divertem -- um velhinho que comanda um grupo de roteiristas é particularmente divertido. Seria interessante se Virzi tivesse pego esse clima e transposto para tudo. Nem precisaria do tal trio. Deixasse a noite tomar conta, o cinema ser o verdadeiro protagonista e ponto final. Melhoraria tudo.
Mas Noite Mágica é o que é. Um filme cheio de pretensões, com uma boa produção, mas que acaba cansando com apenas 30 minutos -- e olha que são mais de duas horas de projeção. Infelizmente, mais uma vez, o cinema italiano não mostra o brilho de 20, 30 ou 40 anos atrás. E também nem alcança o brilho de A Grande Beleza, o único filme até agora, dessa nova safra, que soube homenagear as produções do País. Uma pena.
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