No Ritmo da Sedução, musical original da Netflix, estreou na sexta-feira, 26, com um certo burburinho ao seu redor. Afinal, além de ser o primeiro longa-metragem do gênero musical do serviço de streaming, o filme foi um dos escolhidos para ser exibido durante o Festival de Cinema de Londres -- apesar de não ter levado nada. Mas que grande decepção! No Ritmo da Sedução não funciona como musical, como drama, nem como comédia. É uma obra plastificada, sem graça e sem um propósito aparente.
A trama acompanha Simone (Michaela Coel), uma mãe solteira dedicada que, em uma noite, é encantada pelo bonito e problemático Raymond (Arinze Kene), um completo desconhecido que desperta velhos e novos sentimentos. A partir daí, a diretora Tinge Krishnan (da série O Exorcista) comanda uma trama feminista, empoderada e com tons neon, mas que não consegue se aprofundar por problemas evidentes de roteiro, direção e atuação. É uma mistura de erros básicos, que tiram o brilho de No Ritmo da Sedução.
A começar pelo nome, é claro. O original, Been So Long, que significa "Foi Tão Longo", foi traduzido para um título de segunda categoria. Parece algo muito mais picante e musical do que é -- ainda que haja muitas referências ao sexo. Há, aliás, um filme de 2001, com o título muito parecido, e que conta as aventuras de uma mulher que trai o marido com o professor de dança. Pois é. Difícil compreender como a Netflix achou que No Ritmo da Sedução era uma boa e agradável opção para o seu catálogo original.
Mas se o problema fosse só esse, tudo bem. O fato, porém, é que No Ritmo da Sedução tenta ser um musical moderno, empoderado, feminista. Estratégia e objetivo muito digno e necessário. Mas não adianta de nada se o básico do gênero não funciona: as músicas. Nenhuma delas fica na cabeça, nenhuma delas emociona de fato. Pegue de exemplo dois musicais recentes de maior sucesso, La La Land e O Rei do Show. Ainda que este último tenha uma qualidade deprimente, suas canções ficam marcadas, geram entrosamento com o público. Até emocionam. Em Em Ritmo da Sedução, nenhuma emoção é desperta.
Culpa disso talvez esteja no roteiro de Che Walker, estreante em longas. Ela não consegue criar camadas em seus personagens e, muito menos, produzir vínculos entre público e trama. Por mais talentosa que seja Michaela Coel (Star Wars: Os Últimos Jedi), não adianta. Sua personagem é desinteressante, os momentos de emoção não colam e a trama se torna monótona. Arinzé Kene (Animais Fantásticos e Onde Habitam) também não consegue fazer o tipo galã irresistível. Por mais bonito que seja, é preciso ter uma história por trás para construir o imaginário. E Walker, péssimo, não alcança este ponto.
Por fim, a diretora Tinge Krishnan também não cria momentos de impacto, grandiosos, como os musicais exigem. Seja uma canção tocada de maneira singela no piano, como em La La Land, ou grandes números coreografados, como em O Rei Do Show, é preciso engrandecer e emocionar com a junção de música, fotografia, interpretações e história. Disso tudo, só há a bonita e plástica fotografia. Uma cena inicial, numa espécia de parque, tinha tudo para bater de frente com a grandiosidade musical do primeiro número de La La Land. Mas não faz nem cócegas e chega a dar pena do que é feito ali.
No Ritmo da Sedução até vale pela ideia geral e pela fotografia, podendo agradar os que buscam um romance musical sem compromisso. Mas, no geral, é mais um erro brutal da Netflix, que pena para encontrar o tom ideal de suas histórias. Falta energia, falta música, falta história, faltam bons personagens. Falta, enfim, um filme para chamar de seu. Desperdício de elenco, de direção e potencial. Quem sabe, algum dia, a Netflix consiga perceber que não é a quantidade que faz o nome, mas a qualidade. Uma pena.
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