Franky (Vicky Knight) não consegue dizer adeus ao seu passado. Quinze anos atrás, ela se queimou gravemente quando o pub onde dormia quando criança pegou fogo. Tragédia. Até hoje, ela nunca encontrou respostas sobre isso -- por mais que persiga arduamente a verdade.
Esse é o bom ponto de partida de Névoa Prateada, interessante filme britânico que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 18. Interessante pois, acima de tudo, este longa-metragem dirigido e roteirizado por Sacha Polak (Dirty God) trafega em um mundo de boas ideias: o trauma dessa mulher queimada (tema raro, que lembro apenas de Através do Fogo), as dores e memórias.
Além disso, há um tom de Ken Loach logo de cara, com uma realidade brutal interessante. Os primeiros momentos são poderosos, com uma câmera que dá um bom aspecto documental.
No entanto, logo Polak abandona essas ideias interessantes para embarcar em uma história sobre o romance de Franky com uma outra mulher. É lógico que ainda há algo de interessante sobre a personalidade da protagonista ali, que ainda precisa enfrentar muito de seu passado ao embarcar nesse relacionamento. Mas, ainda, o filme fica às voltas com esse relacionamento.
Névoa Prateada perde todo o charme que encontramos no começo, se tornando mais um filme de relacionamentos traumáticos, e um tanto quanto abusivos, deixando os temas mais interessantes em uma trama secundária, que quase desaparece frente ao que é contado aqui.
No final, por mais que recupere o fôlego ao voltar a tratar sobre abuso e traumas, Polak nunca consegue voltar ao mesmo patamar que estabelece nos primeiros 20 minutos. Uma pena não ter seguido, de fato, o caminho de Ken Loach, analisando profundamente as relações humanas e como elas se dão, principalmente quando mergulhadas no trauma. Era para ser um filme acima da média, profundo e interessante, mas que logo recai no banal e no esquecível. Pena.
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