Nazinha é o apelido carinhoso dado à Nossa Senhora de Nazaré, padroeira da cidade de Belém. No entanto, ao contrário do que pode parecer em um primeiro momento, Nazinha, Olhai por Nós não é um filme religioso, tampouco tem foco na celebração do tradicional Círio de Nazaré -- ainda que a festa transpasse questões do filme. O longa é, na verdade, sobre o sistema prisional.
Encerrando a Trilogia do Silenciamento do diretor Belisário Franca, ao lado de Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil e Soldados do Araguaia, o longa-metragem acompanha a história de quatro presidiários, dois homens e duas mulheres, e que trazem questões diferentes à trama. Um mostra as injustiças da prisão, outro fala de relacionamentos tóxicos, outro sobre família.
Como dito antes, o Círio de Nazaré perambula pela história, com alguns desses personagens ansiando em participar da festa. No entanto, as intenções de Franca vão além: o Círio serve como contraste. Afinal, por mais que esses personagens tragam questões e reflexões tão latentes, o que Nazinha, Olhai por Nós mais mostra é a solidão em contraponto com o Círio.
Oras, na tradicional festa do Pará, milhares de pessoas ficam se acotovelando -- cena, aliás, que abre o filme de maneira espetacular. Do outro lado, porém, esses quatro personagens vivem solitariamente, com nada ou quase nada de suporte. Este é o único momento em que Franca se impõe, como diretor, na narrativa, buscando mostrar ao máximo ao espectador esse contaste.
De resto, ele deixa que o filme aconteça. A religião surge como a única salvadora daquelas pessoas e Belisário deixa as histórias acontecerem. Não julga, não traz reflexões. Por um lado, isso deixa o documentário mais aberto à reflexões pelo lado do espectador -- será que é mesmo a única saída? Quais os males disso? Por outro, porém, pode deixar o filme mais pobre.
Além disso, há poucos questionamentos sobre o sistema carcerário em si, com exceção da história de Neusa. No Pará, tempos depois da gravação deste filme, houve o massacre de Altamira. E absolutamente nada é falado sobre isso. De novo: dá mais força às histórias individuais, mas acaba prejudicando um pouco mais as reflexões coletivas de Nazinha.
Não é um filme ruim. Há uma boa costura de histórias e Belisário pinçou quatro personagens realmente especiais, cada um a sua maneira. No entanto, fica a sensação de que o filme não consegue chegar perto da força de Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, principalmente. Mas fica a certeza de que Belisário é um dos melhores documentaristas em atividade no País.
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