Recentemente, o Esquina postou uma matéria sobre o filme Não se Aceitam Devoluções na qual o protagonista Leandro Hassum afirma que a história do longa-metragem foi "tropicalizada" ao ser trazida ao Brasil. Afinal, não é a primeira vez que ela ganha as telonas: a primeira oportunidade foi em 2013 com o blockbuster mexicano Não Aceitamos Devoluções e a segunda, em 2017, com a versão francesa Uma Família de Dois.
É compreensível a tentativa, por parte de Hassum, de justificar o remake. São poucas as histórias que ganham três versões em países diferentes e em tão pouco tempo de existência. É sintoma de uma falta de criatividade quase generalizada na indústria do cinema de entretenimento, que só aposta em cartas certas e o medo de arriscar -- e de perder dinheiro -- é maior do que a vontade de trazer coisas novas às telonas. É triste de ver.
Assim sendo, já fica claro: é impossível assistir a nova empreitada de Hassum sem lembrar dos outros longas e sem tecer comparações. Para quem viu qualquer um dos dois, é automático. E aos poucos, fica claro que a versão brasileira, infelizmente, é a mais fraca das três.
Mas vamos por partes. Primeiro, a história: Juca Valente (Hassum) é um homem que não quer compromissos, não quer construir uma família. Só quer curtir sua vida no Guarujá e ficar com as mulheres que por ali passam. A coisa muda de figura quando Juca é confrontado por uma de suas antigas paixões (Laura Ramos). Segundo ela, a menina que carrega nos braços é sua filha. Numa invertida do jogo, Juca acaba sozinho com a menina.
A partir daí, constrói-se uma série de situações que misturam comédia com drama para mostrar a jornada de Juca para cuidar da filha (Manuela Kfouri). Eles se mudam para Los Angeles, o pai fica amigo de um produtor (Jarbas Homem de Mello) e até passa a atuar como dublê.
Das três versões, Não se Aceitam Devoluções é a que tem o humor mais escrachado e pouco polido. Ainda que a versão mexicana também invista em algumas bobagens, a de Hassum é campeã: tem piada com transsexuais, algumas de pontada homofóbica e muitas gags físicas que tiram a audiência da história. É um humor muito pobre -- ainda que alguns insistam numa comparação do comediante brasileiro com Jerry Lewis -- que não vai a lugar algum.
O diretor André Moraes também tem pouca mão para o gênero. Diretor do fraco Entrando Numa Roubada, Moraes não possui timing e, também, acaba deixando que Hassum se exceda na tela. Além disso, o diretor investe em closes excessivos nos rostos de seus atores, inflando ainda mais a sensação de artificialidade do que passa na telona.
Falando sobre o elenco, aliás, a maioria decepciona: Hassum está exagerado, a estreante Manuela Kfouri ainda é muito crua, a cubana Laura Ramos fica perdida por conta do idioma, e Jarbas Homem de Mello, coitado, não tem muita chance de brilhar. Ele é um ator que merecia mais espaço. Só Zéo Britto, este sim um grande humorista, consegue chamar a atenção em dois momentos. É engraçado naturalmente, e tem certa entrega.
O grande problema, assim, é que ao falhar no tom das piadas e da comédia, o filme automaticamente já erra no drama -- que chega, mais ou menos, na metade final do terceiro ato. A grande sacada do filme mexicano -- e principalmente do francês, melhor tecnicamente -- é a contraposição de um gênero com outro. Você ri muito, se entrega ao filme e, depois, passa a chorar copiosamente com os acontecimentos que finalizam a história.
Na versão brasileira isso quase não acontece. Ainda que seja igualmente emocionante a situação final, há pouco vínculo com os personagens -- graças aos 20 minutos a menos em comparação com os outros filmes, tendo pouco contexto de suas vidas -- e Hassum, que deveria segurar a emoção na tela, não consegue. Infelizmente, ele não é daquela leva de comediantes que consegue ir para o drama com facilidade. Falta a elegância que é necessária.
Ao final, fica uma sensação de vazio. Quem não conhece nenhum dos outros filmes, pode até se surpreender -- olha só, Hassum apostando num drama familiar! -- e até se emocionar ao criar uma identificação com o personagem. Mas se parar para analisar um pouco a história ou, ainda, entrar em contato com os outros filmes, verá que este fica só na superfície com um humor histriônico, diálogos clichês e personagens rasos. Só algumas adaptações para o Brasil que funcionam e um punhado de piadas que causam um riso tímido.
Falta muito, infelizmente, para que Não se Aceitam Devoluções seja compreensível como remake como o francês conseguiu. A sensação final é de que estamos vendo na tela uma reciclagem muito mal feita. Não vale o ingresso: é melhor e mais fácil ver qualquer uma das outras duas versões.
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