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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: Musical e original, 'Um Banho de Vida' traz genuíno humor francês


Quarentão, Bertrand (Mathieu Amalric) sofre de depressão por não encontrar sentido em sua vida banal e sem graça. Sem sentir efeito nas dezenas de remédios que toma, o francês acaba por frequentar a piscina municipal do bairro em que vive. Lá, ele conhece outros homens, com problemas e histórias semelhantes, que se juntam e forma uma equipe masculina de nado sincronizado -- algo incomum, já que o esporte é taxado de "feminino". Esta é a trama principal de Um Banho de Vida, delicioso longa-metragem do francês Gilles Lellouche (do fraco Os Infiéis) que estreia no Brasil nesta quinta-feira, 20.

A mensagem central do filme não é completamente original, claro. A ideia de pessoas que se valem de um esporte ou de algum conteúdo cultural para escapar de doenças ou depressão já foi amplamente explorada no cinema -- só lembrando de música, por exemplo, tem Canção para Marion, O Quarteto e afins. O que chama a atenção aqui, e que justifica o "original" no título deste texto, é a sacada de colocar homens quarentões numa equipe de nado sincronizado. Esses estigmas de esporte feminino ou masculino é bobagem -- assim como o "azul e rosa". Mas os personagens causam estranhamento.

A primeira cena de apresentação do grupo é de chorar de rir. Eles deitados na beira da piscina, e se virando para cair na água, é hilário. Típico humor francês que surge das situações banais, de mansinho, e logo toma o espectador de rompante. Não dá pra escapar. É riso na certa. O que funciona também é o trilha sonora. Tem Physical, de Olivia Newton-John; Easy Lover, de Phil Collins e Philip Bailey; So Good, So Right, do grupo Imagination. Fica muito mais fácil, e nostálgico, de entrar no clima do filme.

O único problema narrativo, e que prejudica um pouco a imersão na história, é o exagero no entrelaçamento de problemas dos personagens. Ainda que Bertrand seja a linha central, tem momentos do filme que parecem ter personagens demais, subtramas sobrando. E pior: todas se parecem em excesso. É difícil lembrar tudo que está acontecendo, todos os dramas, todos os detalhes. As coisas vão se perdendo no meio do caminho. É um bando de quarentões, em crise de idade, e problema grave de emprego.

O que não faz o filme afundar nesse ponto das histórias e narrativas são as atuações. Mathieu Amalric (O Escafandro e a Borboleta) dá um show. Está confortável no papel e, como sempre, sabe unir drama e comédia como poucos. É o grande ator francês em atividade. Outro que se destaca positivamente é Benoît Poelvoorde (O Novíssimos Testamento). Ele tem um humor fino, no limite do sarcástico, que ajuda a elevar o trama. Destaque também para Guillaume Canet (A Praia), mais contraído.

E o final, que reúne todos os aspectos positivos do filme, é delicioso. Musical, hilário, divertido, original. Tipicamente francês. É, enfim, um longa-metragem que diverte, faz rir e, acima de tudo, faz refletir -- ainda que a mensagem central e primária seja batida. Vale para quem quiser se divertir, ver os "quarenta anos" com outra visão e aproveitar o humor francês. Para quem quiser algo assim, sem dúvidas, é um prato cheio.

 
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