Por problemas sociais que afligem nossa sociedade, ultimamente está mais frequente o feminismo como tema de filmes. As Sufragistas, por exemplo, fez um grande barulho em 2015, apesar de ter passado longe de qualquer grande premiação e já ter sumido na história do cinema. Já ano passado foi a vez de Mulheres do Século XX, um filme muito bem feito e com uma boa história. E agora chega um filme suíço para entrar na lista: o ótimo Mulheres Divinas.
Dirigido pela pouco experiente Petra Biondina Volpe, de Traumland, o longa-metragem se propõe a contar a luta de um grupo de mulheres num pequeno vilarejo suíço que luta pela igualdade de gênero -- mais precisamente pelo direito de votar. No centro dessa briga está Nola, uma dona de casa que se revolta após o marido a proibir de voltar ao mercado de trabalho e de ver a sobrinha presa apenas por conta de uma paixão. Tudo isso a impulsiona a sair nas ruas.
O modo como a história é contada é convencional, quase óbvio. Volpe não usa recursos na forma de mostrar a evolução dos acontecimentos, deixando as coisas bem óbvias -- assim como em As Sufragistas, veja só. Toda a história é encadeada e, em alguns momentos, eu cheguei a adivinhar qual cena viria a seguir, indicando um roteiro fraco e sem pretensões. O cinema existe mais do que para contar boas histórias. A sétima arte também está ali para nos surpreender.
Ainda assim, porém, Mulheres Divinas não é um daqueles filmes que te fazem dormir de tão óbvios ou arrastados. Pelo contrário. O filme conta com uma série de situações que fazem o espectador despertar e manter o interesse no que está vendo. Destaco, aqui, uma cena de um padre fazendo uma pregação, uma outra de um grupo de mulheres “se descobrindo” e, por fim, a maioria das sequências envolvendo a ótima atriz Sibylle Brunner, que interpreta uma idosa revolucionária.
Além disso, falando das atuações, há de se destacar o trabalhos das atrizes suíças. Marie Leuenberger não está espetacular, mas faz um bom trabalho como Nora. É possível ver e compreender suas frustrações e seus sentimentos escondidos. Sinceramente, não sei se ela merecia o prêmio de Melhor Atriz de Tribeca deste ano, mas tudo bem. Outra destaque, além de Marie e Sibylle, é Rachel Braunschweig. Aparece pouco, mas consegue acertar na emoção.
O que impulsiona o filme, porém, e vence a obviedade estrutural é a urgência da história de Mulheres Divinas. O filme se passa inteiramente na década de 1970, mas muitos discursos e sequências ainda podem ser encaixados nos dias de hoje -- o que, é claro, indica que nós temos um problema social gravíssimo. Assim, mesmo com a lentidão narrativa do filme, a produção ganha força, urgência e sentido social -- intensificado, ainda, pelo grito de Aretha Franklin nos créditos.
Mulheres Divinas, então, não é um filme espetacular -- nem é, ao menos, o melhor filme da Mostra deste ano. Ainda assim, porém, é um filme intenso, urgente e assustador sobre os seus significados sombrios. Afinal, passados mais de quarenta anos destes acontecimentos, vemos que muito pouco mudou. Precisamos, sem dúvidas, de ainda mais Mulheres Divinas em nossas vidas.
* Visto em outubro de 2017, durante a cobertura especial da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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