É absolutamente impressionante, ainda que nem um pouco chocante, o resultado de Madame Teia, filme que chegou aos cinemas brasileiros na quarta-feira, 14 de fevereiro. Após resultados ruins da Sony Pictures com a exploração de direitos autorais do Homem-Aranha com Venom, Venom: Tempo de Carnificina e Morbius, esse projeto moribundo enfim chega ao seu ponto mais baixo (pelo menos até a estreia de Kraven) com um filme sem qualquer propósito.
Todo erro, porém, começa com a essência da história: uma mulher (Dakota Johnson) sofre um acidente enquanto trabalha e, depois, desenvolve um estranho poder de ver o futuro e até de retroceder no tempo. É numa curiosa coincidência que ela descobre que três adolescentes (Sydney Sweeney, Isabela Merced e Celeste O’Connor) estão em perigos, ameaçada por uma espécie de Homem-Aranha do mal (Tahar Rahim) com estranhos dons premonitórios.
Perceba, assim, o problema essencial de Mulher Teia, desde sua manjedoura: os dois principais envolvidos são pessoas cujas habilidades são de, simplesmente, ver o futuro. É uma briga de videntes, ainda que Ezekiel Sims, o tal vilão com roupa do Homem-Aranha, também consiga andar pelas paredes. Não há grandes cenas de ação por aqui, como a franquia sempre conseguiu entregar – até mesmo com Morbius, um filme que preza pelo ridículo, sem vergonha.
Toda a emoção do filme reside em mostrar Cassandra Webb, com Dakota Johnson (Cinquenta Tons de Cinza) constrangida em cena, correndo com três adultas fingindo que são adolescentes. A cena de ação mais empolgante é uma ambulância pulando do segundo andar do prédio para atropelar Ezekiel Sims seguindo as premonições da protagonista. Mulheres-aranhas só aparecem em sonho. Será a maior mentira nos cinemas desde Ana de Armas em Yesterday?
Falta propósito. Madame Web, ao ser um filme de origem sobre alguém sem razão, não compreende qual história contar. Mesmo no universo do Homem-Aranha, temos essa figura sem poderes que justifiquem uma história própria, enquanto as três jovens que despontam como promessas – como atrizes ou como personagens – ficam apenas correndo para longe do perigo, como mocinhas indefesas. Algo totalmente impensável para o cinema do século 21.
Além disso, precisamos voltar à questão do erro absoluto de escalação de elenco. Como escolhem três adultas (Sweeney tem 26 anos, Merced tem 22 anos e Celeste tem 25 anos) para interpretar adolescentes? Sweeney, que acabou de mostrar graça em Todos Menos Você e que acertou no drama em Euphoria, causa constrangimento: ela é tratada como uma adolescente ingênua e que precisa ser protegida sempre por essa vidente mal-humorada.
No final, todos esses problemas retornam em conjunto, com um filme que termina do jeito mais constrangedor possível. Webb contrai características físicas sem qualquer explicação, o visual da personagem passa a ser constrangedor (ainda que parecido com o dos quadrinhos, onde é uma senhora mais idosa) e a história das três pseudo-adolescentes é finalizada de forma preguiçosa, sem levar em consideração a complexidade disso. Tudo misturado fica ridículo.
É, assim, uma retomada do cinema de heróis dos anos 2000 e 1990, quando os estúdios não sabiam bem qual caminho seguir e, empolgados pelos resultados de X-Men e Homem-Aranha, buscaram outro pote de ouro -- com filmes horrorosos, como Elektra e Mulher-Gato, infelizmente todos com mulheres. É ruim de verdade. Chega a doer. É o pior do cinema.
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