Quando falamos em filmes de guerra, geralmente lembramos de produções épicas e grandiosas como O Resgate do Soldado Ryan ou, mais recentemente, 1917. Por isso é tão interessante e inusitado entrar em contato com a trama de Mosquito, longa-metragem luso-brasileiro que abriu o Festival de Roterdã e que, agora, fica disponível na 44ª Mostra Internacional de Cinema.
Dirigido e idealizado por João Nuno Pinto, que se inspirou na história do avô, Mosquito acompanha a jornada de um soldado português em plena 1ª Guerra Mundial. No entanto, nada de embates grandiosos em solo europeu. O longa-metragem, na verdade, acompanha esse jovem soldado em Moçambique, com o exército português precisando defender a sua colônia.
Dessa forma, saem os embates épicos e entram as aventuras na selva africana. Saem os tiros, entram os rugidos. E, principalmente, sai a jornada linear do herói branco e europeu para a história de um soldado perdido e desorientado após contrair malária. Ele depende apenas de dois moçambicanos para sobreviver, enquanto tenta a qualquer custo encontrar o seu batalhão.
É, enfim, uma metáfora sobre a presença portuguesa na 1ª Guerra Mundial e, sobretudo, como colonizadores na África. Essa jornada do avô de Nuno Pinto, tal qual a do avô de Sam Mendes em 1917, serve para um propósito maior, ainda que revisitado, e que ajuda a ecoar dilemas morais e éticos nos dias atuais. Obviamente, Mosquito vai muito além do filme oscarizado nisso.
Há, aqui, camadas para cada um dos personagens, assim como um mergulho profundo na cultura de guerra e em aspectos colonialistas. Tudo isso ganha força simbólica latente. O ritmo do filme segue um ar de Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick, que proporciona ao espectador momentos de contemplação numa produção que valoriza o visual contra a narrativa.
Mosquito, assim, é um filme poderoso, necessário, urgente e bem produzido. Tem suas arestas e suas sobras, exagerando ao trazer mais de duas horas de projeção. No entanto, vale a pena atravessar essa jornada junto ao jovem soldado português que coloca esse eurocentrismo em discussão, assim como o colonialismo -- o que, é claro, diz muito também sobre o Brasil.
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