Halina Reijn é, sem dúvidas, daquelas cineastas que precisamos ficar de olho. Depois de construir uma boa carreira como atriz, a holandesa estreou na direção com o impactante Instinto, um dos melhores filmes de 2020. Agora, ela reafirma seu talento como contadora de histórias com Morte, Morte, Morte, estreia nos cinemas brasileiros desta quinta-feira, 6.
A produção conta a história de um grupo de jovens, ali pelos 20 anos, que se reúne na casa de um deles enquanto uma tempestade tropical passa lá fora. No entanto, a morte repentina e aparentemente violenta de David (Pete Davidson) cria um verdadeiro caos ali dentro: quem é o assassino? A partir daí, ao melhor estilo E Não Sobrou Nenhum, acompanhamos o desenrolar.
Na dianteira do elenco, alguns dos melhores nomes da jovem geração de atrizes de Hollywood: Amandla Stenberg, Maria Bakalova, Rachel Sennott e Myha'la Herrold. São elas que comandam o show dos 90 e poucos minutos da produção, com as personagens andando de lá pra cá tentando evitar mais tragédias e tentando compreender quem é a próxima vítima do assassino.
Com vários momentos de tensão, Morte, Morte, Morte te deixa preso pela essência da trama. É um estilo de história já bastante usado, mas que ainda funciona: em um espaço tão restrito, como descobrir o criminoso? Fica aquela aura de curiosidade que, apesar de alguns percalços no roteiro, que se repete e passa por certos vazios narrativos, consegue te segurar até o final.
No entanto, o melhor do filme não é a tensão de quem vai ser moto a seguir, mas todo contexto por trás de Morte, Morte, Morte: uma geração extremamente dependente das redes sociais, que não consegue enxergar nada além da tela do celular. Ao ver uma situação, não enxerga o todo. Só espetaculariza. Esse, na verdade, é o motor mais inteligente por trás do longa-metragem.
Temas como cultura do cancelamento, exposição e "coitadismo" -- há uma cena absolutamente genial com Herrold falando sobre seu contexto econômico, típico do feed do Twitter -- também dão impulso para o longa-metragem. É uma mistura inteligente de E Não Sobrou Nenhum, Nocturama e Cover Versions, trazendo o contexto dessa geração dependente do smartphone.
E o final... A reviravolta é saborosa, inteligente, potente. Se não fosse uma repetição exagerada de algumas situações, Morte, Morte, Morte seria impecável. Mesmo assim, reafirma como o cinema de terror está trazendo algumas das melhores histórias nos cinemas nos últimos tempos. É preciso reconhecer e celebrar isso -- e ficar de olho no cinema de Halina Reijn.
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