Apesar do título a la Agatha Christie, o suspense Morte às Seis da Tarde é uma das maiores vergonhas da Netflix. Dirigido pelo polonês Patryk Vega (do também sofrível Pitbull), o longa-metragem tenta construir uma trama tensa e provocativa, com violência e personagens desconfortáveis, mas acaba entregando uma produção errôneo com momentos vergonhosos.
Na trama, que conta com uma forte inspiração no cinema de David Fincher, acompanhamos uma policial que se dá conta de que alguém está recriando castigos do século 18 para punir criminosos. Logo de cara, por exemplo, um homem é esmagado dentro da pele de um boi enquanto fica exposto ao sol. São crueldades bárbaras, violência refinada, e que chocam a todos.
Menos a protagonista, aparentemente. Interpretada por Małgorzata Kožuchowska, ela é durona. É grossa com todo mundo, passa por cima de ordens de inferiores sem nem pensar duas vezes. Gosta de ser vista e ouvida. No caso dos crimes, trata com uma indiferença artificial. Tenta se manter distante. Mas o que tem é um cerco se fechando, com crimes cada vez mais elaborados.
Ainda que Kožuchowska esteja bem no papel, causando uma irritação constante nos outros personagens e no público, o filme não corresponde. Nem um pouco original, há fortes inspirações de obras como Seven e, até mesmo, do recente Legado dos Ossos. Com certeza, Vega não viu o filme recente da Netflix. Mas isso mostra como a fórmula usada aqui é genérica.
Uma policial durona, com problemas íntimos e pessoais, tendo que combater um serial killer bizarro e com técnicas de séculos passados. É algo que Dan Brown já fez, usou e saturou.
Além disso, Vega não tem a delicadeza que um suspense/thriller exige. Logo em uma das primeiras cenas, por exemplo, a personagem de Kožuchowska chega na cena do crime e, em poucos segundos, o roteiro mostra a falta de habilidade. Não há deixas para que o personagem seja descoberto pelo público. Suas falas, ações, desejos e emoções são enfiados goela abaixo.
Tudo que o diretor e roteirista quer colocar na trama, ele coloca sem pensar duas vezes. Não há, aqui, um verdadeiro pensamento na obra, no conjunto. Há apenas ideias dispersas, embaladas por uma narrativa genérica, que tenta colocar o espectador dentro de uma atmosfera violenta e, por vezes, claustrofóbica. Pode ser até que funciona aqui e acolá. Mas não é nada memorável.
A violência exagerada, sem pudor, acaba se tornando o grande atrativo de Morte às Seis da Tarde. Afinal, a maioria dos filmes do gênero acaba apostando em cuidados extremos. Aqui, não. Vega choca, mostra entranhas, vai além. Não é algo que diferencie o filme a ponto de torná-lo diferenciado. Mas, sem dúvida, deve agradar alguns públicos. Enquanto outros morrem de tédio.
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