O cenário é o Chile. Setembro de 1986. Enquanto outros países já começaram a se livrar das garras de ditaduras, o país sul-americano continua sendo sufocado pelo governo autoritário de Augusto Pinochet. Só que tudo pode ter um ponto final quando um grupo de jovens passa a ter, nas mãos, uma oportunidade única: matar o ditador chileno e, quem sabe, levar paz ao país. Essa é a história de Morte a Pinochet, longa-metragem que estreia nesta quinta-feira, dia 16.
Dirigido por Juan Ignacio Sabatini (do documentário Juan Downey, más allá de estos muros), o longa-metragem mergulha na história do professor de educação física Ramiro, da psicóloga Tamara, e de Sasha, nascida na favela, que se unem e marcam o ataque armado para uma tarde de domingo em 1986. É das mãos desse grupo absolutamente misto e improvável que nasce a possível oportunidade de fazer com que o Chile volte a respirar o ar da democracia novamente.
Morte a Pinochet, assim, é essencialmente um thriller -- desses de contexto bastante político, como é o caso do coreano Operação Hunt, que estreou outro dia aqui no País. Em um contexto chileno, tentamos entender como essa ação de matar o ditador que governo o Chile pode trazer efeitos imediatos, positivos e negativos, e como isso é um anseio que atravessa classes, gêneros, objetivos de vida. São personagens interessantes construídos no longa-metragem.
Lembra, além de Operação Hunt, algo de Operação Valquíria, aquele filme de 2008, com Tom Cruise, que fala sobre o plano mais célebre e que mais se aproximou do objetivo final de matar Adolf Hitler. Obviamente não deu certo, mas, mesmo sabendo o final, a tensão de tudo aquilo ali acontecendo segura. Principalmente por conta dos personagens, bem construídos, e que fazem com que o público tema por suas vidas e pelo bem-estar. É o que acontece neste filme de agora.
Aqueles que são mais informados sobre a história da América Latina sabem o que vai acontecer aqui -- os quase 90 minutos de projeção, logo, acabam se tornando apenas o preâmbulo para um final historicamente conhecido. Ainda assim, torcemos pelos personagens e sofremos por eles. É a magia do cinema que, entre verdade e farsa, nos faz torcer pelas coisas mais improváveis que poderíamos imaginar. E quem sabe, no final, Sabatini não dá uma de Tarantino?
No entanto, nesses casos de filmes Morte a Pinochet, nem sempre o thriller é a solução para tudo. Ainda que segure boa parte da atenção, principalmente quando o cineasta abraça uma espécie de suspense hollywoodiano, fica a sensação de que falta algo. E aqui, essencialmente, o problema está na falta de ideias, opiniões e reflexões: o filme é situado apenas no passado da América Latina e, apesar de ser político e histórico, nunca traz ideias nesses dois campos.
Fica preso apenas na execução e longe de outras coisas importantes, como colocar o filme em um tempo de debate -- algo até que simples, dado o contexto latino-americano. Morte a Pinochet não é ruim, longe disso. Agrada e faz os 80 e poucos minutos passarem voando. Mas, sem dúvidas, falta algo em sua construção. Aquele espectador que espera mais do que apenas um relato com um pé em Hollywood vai se frustrar e ter que procurar filmes mais completos.
Comentários