Quando sentamos na poltrona do cinema para assistir a algum filme de Gerard Butler, já sabemos o que vamos encontrar: um filme de tiro, porrada e bomba, com pouco cérebro e muita empolgação. Certo? Nem sempre: Missão de Sobrevivência, filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 27 de julho, é uma verdadeira bomba -- sem qualquer tipo de qualidade por ali.
Dirigido por Ric Roman Waugh, parceiro do astro em filmes como Invasão ao Serviço Secreto e Destruição Final, o filme é o mais politizado da dupla – e também o pior. Na trama, acompanhamos a história de um agente secreto da CIA (Butler) que está em território dominado por terroristas árabes. Ele até consegue cumprir sua primeira missão, mas logo sua identidade é revelada. E é aí, em tese, que começa a correria, na tentativa de fugir dos terroristas.
Waugh, que foi um dos grandes responsáveis por criar essa persona para Butler de ator de tiro, porrada e bomba, simples passa uma borracha nas questões políticas do Oriente Médio e pasteuriza todas as discussões que nascem a partir dos conflitos dali. É, basicamente, um filme de um lobo solitário, como se fosse um americano contra todos os árabes do mundo.
Missão de Sobrevivência só não é um filme sobre um homem só por conta de um personagem: Mo (Navid Negahban), tradutor enviado para ajudar Butler. No entanto, qual a surpresa quando nos é revelado que, apesar de árabe, o personagem é hoje um cidadão americano? É como se todos os árabes fossem terroristas sanguinários – incluindo uma criancinha, em um diálogo que causa vergonha. Os únicos que se salvam são aqueles que passam pelo filtro ocidental.
Ric Roman Waugh faz aquilo que felizmente ficou preso no controverso universo do cinema dos anos 1980: transforma a nacionalidade do inimigo na credencial de vilão. Não há qualquer tipo de complexidade na construção de quem são os vilões da história. É Gerard Butler (e um “árabe domesticado”, na visão do cineasta) contra o mundo. Missão de Sobrevivência é o filme mais politizado de Waugh – mesmo sem querer. Ele acaba fazendo uma declaração, um depoimento, sobre a guerra que os Estados Unidos travam contra os terroristas no Oriente Médio. É como se o norte-americano fosse o bastião da liberdade. É como uma releitura de Steven Seagal.
Além desse discurso horroroso, o longa-metragem também não é bom. Enquanto outros filmes do cineasta contam com boas cenas de ação, principalmente Destruição Final: O Último Refúgio, esta nova aposta da dupla não tem qualquer sequência empolgante – a única cena interessante envolve um helicóptero e é muito mal dirigida. Além disso, a história é caótica. Prova disso são os rumos de uma jornalista, sequestrada bem no início do filme, e que apenas é esquecida.
Fica a sensação, quando os créditos sobem, que Waugh não tem nada pra contar. É um vazio, do começo ao fim, que não pensa e não fala. É o pior filme desta safra do cinema de ação na carreira do ator, que não convence – superando até mesmo o fraquíssimo Alerta Máximo. Fica a sensação que Butler está se perdendo no personagem. E isso nunca é um bom sinal.
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