Adaptado de uma famosa peça teatral brasileira, o longa-metragem Os Homens São de Marte... E É Pra Lá Que Eu Vou se tornou uma sensação nos cinemas em 2014. Protagonizado por Mônica Martelli e com a presença de Paulo Gustavo, ainda em pouca evidência, o filme conseguiu fazer uma invejosa bilheteria de quase 1,8 milhão de espectadores em pouco mais de dois meses em cartaz. Para se ter uma ideia, em 2018, apenas Detetives do Prédio Azul conseguiu a façanha de ultrapassar o milhão de ingressos vendidos. Agora, Martelli e Paulo Gustavo voltam pra aguardada continuação da trama em Minha Vida em Marte. Dificilmente, porém, irá repetir os bons resultados.
A trama do novo longa-metragem, dirigido por Susana Garcia (também responsável pela continuação da história no teatro), mostra a vida de Fernanda (Martelli) após o casamento com Tom (Marcos Palmeira) -- principal temática do primeiro filme. Ao contrário do que esperava, nada de sonho de princesa. Eles já não transam mais, a filha parece ser responsabilidade única da mãe e o diálogo entre as partes, antes tão vivo e frequente, acaba resultando em desencontros e confusões. O refúgio dela acaba sendo no amigo e sócio Anibal (Paulo Gustavo), que a deixa mais animada e tenta fazer com que ela enxergue o lado bom da vida. É um filme, basicamente, de Martelli e Gustavo.
O grande ponto central em Minha Vida em Marte é que, assim como no primeiro filme, toda a trama é dividida em episódios -- ou esquetes, como é chamado no cinema de humor. São situações, sequências e acontecimentos que não possuem uma ligação em si, em diferentes ambientes ou com diferentes motivações, mas que se unem pelos personagens e pela trama central. Em Os Homens São de Marte, eram vários encontros de Fernanda com possíveis pretendentes e com a finalidade de encontrar um homem ideal. Apesar de ter envelhecido muito mal, é uma história que tinha coesão. Já no novo filme, é apenas a protagonista encarando o problema do casamento. Falta união geral.
Afinal, as sequências pouco acrescentam para alguma finalidade narrativa. Fernanda apenas vive sua vida, seja em Nova York, seja num retiro de ioga, seja planejando a festa para um funeral. Se tirar qualquer uma das esquetes, o filme continua tendo o mesmo sentido, as mesmas consequências. Erro grave de roteiro de Susana, Paulo Gustavo e Martelli, que não souberam dar sentido geral para o que estava sendo contado. Minha Vida em Marte, de certa forma, funcionaria melhor como uma série de breves episódios do que como longa-metragem. Falta motivação geral, alguma história ser contada.
Mas, dessa maneira, há de se destacar que o humor ganha pontos. Afinal, Paulo Gustavo (Minha Mãe é uma Peça) aparece muito mais, por conta do caráter mais episódico e menos baseado na narrativa, e não há como negar seu talento para fazer rir. Há três grandes momentos do ator em cena e que geram gargalhadas sinceras. Martelli continua sendo a mais fraca e sem sal de tudo. Há pouca verdade na maioria de suas cenas. Mas, no geral, até que consegue servir de escada para Gustavo. De resto, poucos destaques no elenco e poucas participações especiais interessantes -- Anitta, por exemplo, aparece gratuitamente numa cena sem sentido; Palmeira só está funcional.
De resto, há poucos pontos positivos a serem destacados. A trama, como ressaltada, não tem coesão, ainda que seja mais "empoderada" e menos ultrapassada do que a primeira; a direção de Susana Garcia é operacional, sem nenhuma inovação ou criatividade; e só Paulo Gustavo que realmente se destaca no elenco. É um filme, assim, que deve trazer menos impacto e resultados do que o original, que despertou a atenção das pessoas que queriam ver a transposição da peça para os cinemas. Deve agradar mulheres entre 40 e 50 anos, que podem se identificar. De resto, só risadas esporádicas e a estranha sensação de estar vendo uma história sem começo, meio e fim.
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